sábado, 3 de março de 2012

A retenção de cuidadores no PIPCP - Revisão da bibliografia

É sabido e resultado de numerosos trabalhos de investigação, realizados no âmbito dos programas de carater preventivo, que a retenção dos participantes neste tipo de programas se reveste de algumas dificuldades.
Tal como referem Girvin, DePanfilis & Daining (2007) um tema fundamental nas questões sobre os programas preventivos e a participação dos clientes, é saber porque é que uns terminam a intervenção e outros não.
Cooney, Small & O’Connor (2007) referem que esta dificuldade na retenção de participantes, pode mesmo minar o sucesso destes programas, atendendo a que não podem ter impacto em pessoas que não participam.

O Programa de Intervenção Precoce e Competências Parentais é também afetado por esta problemática.
Este relatório pretende transmitir os resultados que obtivemos na pesquisa que realizamos, entre fevereiro e maio de 2011, para tentarmos perceber quais as razões para esta realidade que tem a ver com o abandono dos projetos locais do PIPCP.

Revisão da Literatura
A participação dos cuidadores e as dificuldades com a sua retenção nos programas preventivos implica um conjunto de processos que incluem segundo Girvin, DePanfilis & Daining (2007) a fraca assiduidade, o desgaste, a falta de empenho e o incumprimento dos participantes.

Daro & Harding, citados por Givin, DePanfilis & Daining (2007) referem que entre 20% e 30% das famílias que aceitam entrar nos programas, não se envolvem com sucesso até à sua conclusão.

Quando o processo de intervenção produz um grande efeito, mas tem uma taxa pequena de participação, o seu impacto na população será provavelmente pequeno, proporcionando consequentemente poucos benefícios sociais (Winslow, et al., 2009).

A retenção em programas preventivos é aqui definida como o processo pelo qual os pais se envolvem nestes programas, desde o consentimento para a sua participação até ao envolvimento atual, a participação nas sessões e a qualidade na participação (Dumas, Nissley-Tsiopinis & Moreland, 2007)

Wagner et al. (2003) referem que o envolvimento dos cuidadores nestes programas decorre ao longo de cinco dimensões, a saber:
 “Dizer sim” ao envolvimento: esta dimensão é exibida pelos cuidadores quando estes são suficientemente atraídos pelo programa e estão motivados para aprenderem mais sobre a parentalidade e sobre os seus filhos.
 “Estar” envolvido: implica a motivação de continuar no programa ao longo do tempo, de forma consistente.
 “Implicado” no envolvimento: refere-se ao envolvimento ativo dos cuidadores durante as sessões do programa, à sua participação como elementos participantes que ouvem a informação, que fazem questões e que pedem conselhos.
 Envolve-se no “trabalho de casa “: esta dimensão relaciona-se com o uso da informação, ideias, sugestões e material fornecido pelo programa, entre sessões, sendo este um sinal de que o programa teve um bom impacto.
 “Procurar mais” envolvimento: esta última dimensão diz respeito a quando os pais após uma sessão, vão para casa procurar mais informações sobre determinado tema.

Vários investigadores referem que o abuso de substâncias, a depressão e a violência doméstica podem desafiar a capacidade parental para terminar o programa, enquanto outros estudos apontam para o fato de que quando os cuidadores sentem que o programa não lhes oferece o que estão à espera, podem abandoná-lo prematuramente (Givin, DePanfilis & Daining, 2007).

McCurdy & Daro (2001), citados por Daro et al. (2005), identificaram um conjunto de ameaças que surgem nos participantes, em quem dá os conteúdos (nos técnicos), nos programas e nas comunidades e que jogam um papel importante na manutenção de novos cuidadores em programas de apoio.
Assim, segundo estes mesmos autores, a retenção dos participantes é influenciada por um conjunto de fatores que incluem:
1. Experiências objetivas – os participantes permanecem mais tempo nos programas se os seus serviços são providenciados numa base regular, se recebem incentivos (se vão ao encontro das suas necessidades concretas), se os técnicos são consistentes e se o programa vai ao encontro das suas promessas.
2. Experiências subjetivas – os participantes podem permanecer mais tempo no programa se sentem que estão ligados aos técnicos e se sentem confortáveis no programa.
3. Caraterísticas dos técnicos - os participantes permanecem quando os técnicos são competentes, bem treinados e têm experiência na apresentação das matérias e materiais do programa.
4. Caraterísticas do programa – os programas que demonstram respeito pelas normas culturais e costumes locais, retêm mais participantes.
5. Caraterísticas da comunidade – famílias que vivem em comunidades caóticas têm menor probabilidade de ter acesso e de permanecerem nestes programas por um período de tempo longo.

Daro et al. (2005) também verificaram no estudo que realizaram, que existem fatores que não são prognosticadores da retenção dos participantes nos programas, tais como:
1. O estatuto socioeconómico.
2. A motivação pessoal do participante não surge como medida da sua preparação inicial para a mudança. A motivação apenas prevê a sua intenção de se envolver nestes programas preventivos.
3. O envolvimento pré natal nos programas também não se traduz na permanência.
Outro conjunto de fatores sociodemográficos em que os estudos não são conclusivos, diz respeito ao estado marital e ao nível educativo do cuidador, aos rendimentos familiares que se correlacionam com o fator educativo, se os cuidadores coabitam ou não e a idade dos cuidadores. (Dumas, Nissley-Tsiopinis & Moreland, 2007).

Cooney, Small & O’Conner (2007) referem, por sua vez, a existência de um conjunto de obstáculos à participação, como sejam:
1. As exigências necessárias em termos de tempo e energia para os participantes assistirem semanalmente às sessões planeadas;
2. As diferenças culturais entre os participantes e os técnicos;
3. As dificuldades de acessibilidade dos participantes;
4. As mudanças de residência, uma situação comum em famílias de baixos recursos financeiros.

Dumas, Nissley-Tsiopinis & Moreland (2007) apontam que o envolvimento e a participação em programas parentais, são determinados pela intenção dos pais para se envolverem, com as suas perceções de que eles próprios ou os filhos podem beneficiar com o programa e de que os obstáculos que encontrarem podem ser ultrapassados. Os mesmos autores referem ainda que entre os fatores mais estudados na retenção, se encontram a vulnerabilidade da criança ou os problemas de comportamento que estas possam apresentar, bem como possíveis obstáculos à intervenção (ex.: a disponibilidade de tempo).

Por sua vez, Díaz et al., (2006) apresentam num estudo que realizaram, em que referem existir correlação entre a participação em programas preventivos e os seguintes itens: número de filhos, nível educacional dos pais, assiduidade, a relevância percebida das sessões, a experiência prévia em programas preventivos.

Como podemos verificar, não existem razões conclusivas que identifiquem os motivos para os cuidadores não permanecerem nos programas preventivos até ao final do processo de intervenção ainda que possam existir algumas pistas que nos deem indicações sobre o processo de retenção de participante. Sendo que no Programa de Intervenção Precoce e Competências Parentais a não permanência de muitos deles é uma realidade que prevalece, vamos tentar perceber o porquê desta situação.