quarta-feira, 30 de maio de 2018

Anos Incríveis - um programa de competências parentais



Elaborado por Cláudia Sousa Andrade
O programa Anos Incríveis é um programa de competências parentais, criado por Carolyn Webster Statton para reduzir problemas de comportamento e promover competências sociais e emocionais em crianças e é uma dos programas aplicados em Portugal pela Universidade de Coimbra, à população portuguesa.
Em relação ao programa Anos Incríveis para pais (AI – P), que se trata de um programa que em termos de contextualização tem como objetivo geral a promoção da saúde mental em crianças, através da intervenção sobre os pais. Prevê a promoção de estilos parentais e educativos positivos e apoiantes, enquanto por outro lado procura diminuir estilos parentais e educativos negativos e severos. Para as crianças tem como objetivo diminuir comportamentos agressivos e opositivos desde cedo e promover competências sociais e de auto-regulação.
 É desenvolvido com grupos de 12 pais de crianças com idades compreendidas entre os 3 e os 8 a os anos. O cuidador envolvido, é o pai a mãe ou outro, tendo a formação lugar na comunidade. Ocorre ao longo de 12 a 14 sessões, sendo moderado por 2 facilitadores com formação específica na versão do programa que aplicam.
O programa assenta numa base teórica que inclui as teorias da aprendizagem social, de auto eficiência e da vinculação. Em termos metodológicos, este programa recorre a uma abordagem colaborativa em que se utilizam métodos ativos como: modelação por vídeos, role-plays e repetições, trabalhos de casa, apoio nas atividades e discussões em grupo.
Em termos de apoio logístico é necessário, fácil acesso ao local, bom ambiente, transporte, horários, baby sittiing, É ainda necessário manuais detalhados para os dinamizadores, DVD, livros e materiais para formar os pais.
Segundo Seabra-Santos, et al, 2016, desde a publicação do primeiro programa da série, que foi desenhado para apoiar pais de crianças entre os 2 e os 8 anos para melhoria das suas práticas parentais, vários outros foram propostos até ao presente, sendo que esta série inclui agora programas para os pais, para professores e para crianças, tendo sempre estas últimas como alvo de mudança.
O amplo suporte empírico que o programa AI-P tem vindo a alcançar ao longo de 35 anos, incluiu este nos directórios internacionais de intervenções baseadas em evidências. Embora estudos relacionados com estes programas dêem maior visibilidade a comportamentos relacionados com a diminuição da agressividade e de oposição, também o AI-P se tem mostrado eficaz na promoção de competências socio emocionais (Seabra-Santos, M.J., et al, 2016, citando Mentig, et al). Deste modo, enquanto ocorre a intervenção direta com os pais, o programa visa aumentar as práticas parentais positivas, capacitar os pais enquanto “treinadores” de competências sociais nas crianças e como “modelos” eficazes de competências sócio emocionais, fortalecendo as relações pais-filhos. Estes estudos revelam ainda uma melhoria na comunicação e na resolução de problemas no seio da família. Com base em estudos de follow up, estes efeitos mantêm-se ao longo do tempo (Seabra-Santos, et al, 2016).
As mesmas autoras referem que as sucessivas replicações que têm com o programa AI-P e que têm ocorrido em diversos países, têm-se traduzido em estudos que tem revelado resultados positivos a curto, médio e longo prazo, não só a nível dos comportamentos das crianças, mas também com as práticas parentais, permitindo a transportabilidade para outros países, nos quais se inclui Portugal.
Em Portugal, mais especificamente no seio do concelho de Coimbra, foi realizado um outro estudo, do qual fizeram parte 102 pais e mães de 82 crianças entre os 3 e os 6 anos. Deste estudo resultam a nível das práticas parentais uma diminuição da rigidez disciplinar e aumento da disciplina apropriada. Também se regista um aumento do sentido da competência parental. Ao nível das crianças regista-se um aumento das aptidões sociais e uma diminuição de problemas de comportamento. A nível da avaliação da satisfação parental dos pais, estes avaliaram as sessões positivamente a nível dos conteúdos.
Foi, assim, colocado em evidência a utilidade prática deste programa e a sua dinamização enquanto meio para intervir e promover a saúde mental em crianças, mediante a intervenção dos seus pais.                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                      
Fontes Bibliográficas:
Seabra-Santos, M. J; Gaspar M.F,; Homem, T.C.; Azevedo, A.; Silva, I.; & Vale, V. (2016) Promoção de Competências Sociais e Emocionais: Contributos dos Programas Anos Incríveis in A.M. Pinto; R. Raimundo (Eds), Avaliação e promoção de competências socio-emocionais em Portugal pp 227-260. Vialonga: coisas para ler.


quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

Transição para a parentalidade

Por Cláudia Sousa Andrade
O nascimento de um filho provoca um período de instabilidade nos comportamentos, com a entrada numa nova fase do ciclo de vida da família, a complexificação e ampliação
do sistema familiar e a transição para a parentalidade. Verifica-se que a transição para a parentalidade é considerada uma fase das mais dramáticas e intensas que o ser humano enfrenta (Martins et al, 2017).
A aquisição das competências parentais é uma tarefa complexa, para a qual são necessárias adaptações e reorganizações, que podem por em risco a saúde e o bem-estar dos adultos bem como o desenvolvimento da criança. Esta é também uma tarefa multidimensional que engloba aspetos de dimensão pessoal, cultural, da  padíade e social (Gauthier & deMontigny, citados por Martins et al, 2017)
A transição para a parentalidade é facilitada ou dificultada por vários fatores como seja o significado que a própria situação tem para os pais, por atitudes e crenças, conhecimento e preparação para o seu exercício. A nível da social, também esta dimensão pode facilitar ou dificultar a transição, em termos de suporte familiar, o nível socioeconómico e cultural, etc.
No âmbito das funções da parentalidade os pais apresentam respostas comportamentais, emocionais e cognitivas, e as suas funções enquadram-se na “satisfação das necessidades básicas”, em “ disponibilizar à criança um mundo físico organizado e previsível”, em “satisfazer as necessidades de afeto, da confiança e de segurança”, bem como satisfazer as “necessidades de interação social da criança” e as  “necessidades de compreensão cognitiva das realidades extrafamiliares”  (Cruz, 2005).Estas funções enquadram-se no artigo 27º da Convenção sobre os Direitos da Criança, que indica que é da responsabilidade parental, de acordo com as suas competências e capacidades financeiras, condições de vida necessárias para permitir o desenvolvimento da criança
 Para além destas funções, os pais desempenham ainda outros papéis importantes, como seja o de parceiros de interação, o de instrutores diretos no planeamento e implementação de estí mulos de aprendizagem.

À medida que este processo evolui e que a criança cresce e se desenvolve, o processo da parentalidade também sofre adaptações e reorganizações. A adaptação continua que implica um processo de gestão de novas emoções, comportamentos e preocupações.

Fontes bibliográficas:
Martins, C.; Abreu, W.; Figueiredo, M. C. (2017) Tornar-se Pai ou Mãe: O desenvolvimento do processo parental in  Actas do 6 º Congresso Ibero-Americano em Investigação Qualitativa: Investigação Qualitativa em Saúde vol.2 pp 40-49

Cruz, O. (2005)  Parentalidade 1ª Edição, Quarteto, Coimbra

quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Porque são importantes as rotinas?

Por Cláudia Sousa Andrade
As rotinas são atividades padrão que se repetem quase sempre da mesma forma. Enquanto adultos, estas fazem já parte do nosso quotidiano sem que por vezes nos demos conta.
Tomamos café de manhã e quase sempre no mesmo sítio, vamos ao mesmo supermercado, estacionamos o carro no mesmo lugar ou fazemos as refeições todos os dias às mesmas horas. São as rotinas que nos ajudam a organizar o nosso dia a dia e a torná-lo estável.
Nas crianças as rotinas são úteis para a aprendizagem do auto-controlo. As rotinas devem ser consistentes, isto é, devem acontecer, mais ou menos na mesma altura e aproximadamente da mesma forma.
Quando assim é, estas têm a função de promover o conforto e dar um sentido de segurança à criança. Quando estas sabem o que vai acontecer a seguir sentem-se mais tranquilas emocionalmente.
Quando os pais ou cuidadores são firmes nas rotinas, ensinam as crianças a confiar neles aprendendo que estes lhes vão dar aquilo que precisam. Quando surge esta sensação de segurança, elas podem dedicar-se ao seu “trabalho” de brincadeira, exploração e aprendizagem.
As rotinas estáveis aproximam a criança do seu cuidador e ajudam a reduzir as birras na medida em que permitem antecipar o que vem a seguir, dando confiança e sentido de controlo (por exemplo a leitura da história antes de dormir).
As aptidões sociais também são desenvolvidas com as rotinas, dado que estas promovem a aprendizagem de padrões e rotinas de interação social.
Os pais ou cuidadores devem ser firmes, no entanto, não necessitam de viver em regime militar. È importante que, por exemplo, ao fim de semana ou férias as rotinas possam ser alteradas, no entanto é fundamental que se fale com a criança e se explique porque é que existe essa diferença, de modo a não criar confusão ou frustração quando se retomar a rotina habitual.

É importante perceber que ao estabelecermos rotinas nas nossas crianças estamos também a promover dois ingredientes importantes para a aprendizagem: a interação e a repetição.

quarta-feira, 20 de setembro de 2017

O Modelo colaborativo

Por Cláudia Sousa Andrade
     Se até aos finais do século XX, a educação parental tinha um caracter sobretudo “remediativo” para famílias de risco, centrado no profissional cujo papel era ensinar áquelas famílias as “boas práticas de educação “. A partir da década de 80 este modelo médico que trabalhava essencialmente, as falhas com base no treino, foi sendo substituído por um modelo de tipo sociocultural , bio-ecológico, multissistémico , baseado nas potencialidades.
    Os fatores familiares são muito importantes tanto como fatores de proteção, como fatores de vulnerabilidade. É por isso que as intervenções centradas nos pais ou na famílias são consideradas mais prometedoras na prevenção, no diagnóstico na educação da criança e decisão quanto ao seu projeto de vida.
    Assim, quando se fala de uma forma de intervenção com foco nos pais, está-se a referir a Formação Parental que é um “conjunto de atividades educativas e de suporte que ajudam os pais a compreenderem as suas necessidades sociais, emocionais, psicológicas e físicas, as dos seus filhos e aumentem a qualidade da relações entre eles” (Gaspar, F; 2003)
Estas são atividades que vão contribuir para as comunidades pela criação de um conjunto de serviços cujo principal objetivo é o alargamento e a construção de serviços na rede de  suporte das famílias, que sejam acessíveis.
     A Educação Parental tem como objetivo último ajudar os pais a desenvolver o autoconhecimento e a autoconfiança, aumentado a sua capacidade, apoiarem e ajudarem o desenvolvimento das criança, numa perspectiva de melhorar a qualidade das relações entre pais e filhos, através de refleção, da promoção da mudança e da educação de forma mais pessoal, profunda e experiencial. Surge como uma abordagem preventiva, com objetivos de prevenção de comportamentos e padrões disfuncionais
Esta é uma forma de apoia aos pais, tal como o Treino Parental. Este modo de apoio parental está associado ao trabalho com pais de crianças com problemas de comportamento, em situações de crise e de perigo dos maus tratos e negligencia. Este tipo de intervenção visa a mudança de práticas parentais, tendo como objetivo a intervenção em problemas específicos.
   Estas duas formas de apoio parental visam proporcionar-lhes informações práticas e conhecimentos, através da transmissão de princípios de aprendizagem e de modificação de comportamentos que vão promover competências parentais, comunicacionais e de resolução de problemas.  Ambas as intervenções promovem a existência de um espaço de autoconhecimento, de partilha e reflexão de sentimentos, emoções, dúvidas e problemas.
     Enquanto alguns autores defendem a permanência do termo “educação parental” apesar de vir do modelo médico, outros como Dunst ou Mahoney, propõe a sua reformulação e um reinvestimento neste domínio de trabalho em parceria com as famílias.
    Temos então como objetivos da formação parental a mudança, a educação que seja pessoal, experimental e bastante profunda, que não pretenda apenas informar. Em termos de áreas especificas, estes objetivos enquadra-se:

  •         Promover os conhecimentos dos pais
  •          Desenvolver competências de prestação de cuidados
  •        Estimular e melhorar a relação pais-criança a aquisição de aptidões, especificas por parte das crianças
  • Promover o autoconhecimento dos pais ou futuros pais
  • Promover modificações positivas na autoconfiança
  • Aumentar a satisfação no desempenho das funções parentais
  • Resposta às necessidades da família de forma abrangente (de forma preventiva ou intervenção em situação de crise)
  •  Percepcionar os pais como elementos competentes
  •  Incentivar o apoio das redes sociais formais e informais
Nas famílias de crianças em situação de risco, pretende-se:
  •  Introduzir melhorias no processos interactivos
  •  Aumentar o conhecimento sobre o desenvolvimento da criança
  •  Promover competências de relacionamento entre pais-criança
  •  Prevenir situações de maus-tratos e negligencia

    Resumindo, estes objetivos devem enquadrar-se nos seguintes conceitos:
  1.   Capacitar: criar oportunidade para que todos os membros da família possam demonstrar e adquirir competências que consolidar o funcionamento familiar
  2.  Corresponsabilizar: a capacidade que toda a família deve demonstrar de satisfação das suas necessidades e aspirações, de forma a promover um sentido claro de controlo e domínio intrafamiliar

  O risco de “escolarização da vida familiar” e “hiperestimulação da criança” são alguns dos problemas que se podem colocar frente à indicação de educação parental. No entanto, a sua necessidade e importância é consensual desde que seja enquadrada num paradigma de promoção de competências e não num de “remediação”. Este é o paradigma com que se conceptualiza hoje a educação parental, com a possibilidade de Capacitar, Corresponsabilizar e Co-evoluir, assente numa perspetiva de que os pais e família são competentes e de reflexão sobre a relação entre os pais e os profissionais.
     Este paradigma só pode acontecer pela persecução de um modelo colaborativo o que implica:
  •      Abandonar o papel de perito que ensina competências aos pais e trabalhar conjuntamente com estes, tendo em consideração o seu contexto ecológico, envolvendo-os ativamente no processo de partilha de experiências, discussão de ideias, sentimentos e resolução de problemas;      Construir uma relação não culpabilizante, apoiante e recíproca, com respeito pelo contributo de cada pessoa, na confiança e na comunicação aberta;
  •    Assumir uma perspectiva de empowerment, funcionando como uma via importante para a promoção da confiança, da autossuficiência e da autoeficácia dos pais;
  •      Os pais assumem um papel relevante no desenvolvimento de respostas para as suas questões e dificuldades, em colaboração com o técnico;
  •     O técnico fica responsável pela criação de um contexto apoiante e adaptado às caraterísticas, necessidades e valores do publico alvo.
          A formação parental assume assim um papel importante na Promoção da Parentalidade Positiva que segundo o Conselho da Europa (Recomendação 16, Lisboa 2016)  a define como "comportamentos parentais baseados no superior interesse da criança e que assegura as principais necessidades das crianças, a sua capacitação sem violência, proporcionando-lhe o reconhecimento e a orientação necessária, o que implica a fixação de limites ao seu comportamento, para possibilitar o seu pleno desenvolvimento"

in http://reflexoespsikologicas.blogspot.pt/2011/10/formacao-parental-ou-procura-de.html consultado a 19.09.2017


quarta-feira, 28 de junho de 2017

Abordagem qualitativa dos programas de competências parentais

Por Cláudia Sousa Andrade
 Considera-se que a família é o centro da sociedade. No entanto, nem sempre todas as famílias são capazes de se organizar para responder adequadamente às necessidades dos seus membros, devido à intervenção de diversos fatores.

O ambiente familiar proporcionado pelos pais tem um impacto inequívoco na trajetória desenvolvimental das crianças. A necessidade de apoio aos pais que por vezes é necessária, deu origem à intervenção parental. O desenvolvimento de projetos de formação parental que ajude os pais a melhorar o ambiente familiar, para os seus filhos tem-se verificado. É por isso que é importante, fazer a avaliação deste processo, para saber de sua eficácia.

O Conselho da Europa defina a parentalidade positiva como “ o conjunto de comportamentos parentais que procura o bem-estar da criança e o seu desenvolvimento integral desde uma perspetiva, de cuidado afeto, proteção, enriquecimento e segurança pessoal, de não-violência, que proporciona reconhecimento pessoal e pautas educativas, e inclui o estabelecimento de limites para promover o seu completo desenvolvimento, o sentimento de controlo da sua própria vida.”

Esta surge como uma parentalidade respeitosa que é apoiada nos direitos da criança, consistente com os princípios de não- discriminação, primazia do interesse superior da criança em todas as ações relativas a ela, direito da criança à sobrevivência e ao desenvolvimento máximo, o respeito pelos seus pontos de vista. É neste âmbito surge a intervenção na parentalidade e concretamente da formação parental.

A importância da formação parental resulta também no ser possível apoiar a família no contexto de formação, a nível dos comportamentos e de crenças educativas de modo a maximizar conscientemente o desenvolvimento integral das crianças.

A formação parental engloba programas educacionais cujo objetivos enquadram-se no apoio aos pais no desempenho de tarefas educativas para que o processo educativo facilite o desenvolvimento da criança e que seja recompensador para os pais.

Em função do grau de estruturação ou estandardização das intervenções foram identificadas 4 formas
1.       Intervenções internacionais estandardizadas com conteúdos, procedimentos e instrumentos definidos
2.       Intervenções nacionais estandardizadas, adaptadas para Portugal, e cuja eficácia não foi totalmente comprovada
3.       Intervenções estruturadas, construídas à medida, de acordo com a população a que se destina
4.       Intervenções flexíveis, construídas ao longo da do decorrer das sessões, em função das necessidades sentidas

Podem ter um caráter preventivo ou terapêutico (quanto à natureza).

Podem ainda ser divididas em função dos seus conteúdos, dos pressupostos teóricos, de contextos de realização ou da natureza da intervenção.

Visto que a pobreza constitui um importante fator de risco, que influencia as práticas educativas bem como os resultados da criança.

A investigação aponta caraterísticas pelas quais estas famílias são alvos importantes da formação parental: 1) baixos níveis educacionais dos pais, (provoca dificuldades no apoio escolar dos filhos e dificulta o envolvimento no contexto escolar de criança), 2) problemas de saúde, 3) desemprego, 4) desempenho de empregos de baixo estatuto social, 5) acontecimentos de vida negativos (divorcio ou desemprego) o que contribui para uma 6) parentalidade inconsistente (falta de afeto e condições que potenciam o maltrato infantil).

Obstáculos à formação parental: impedimentos de natureza financeira, política, social, preconceitos, poucos pais assistem.

Também se constata que os pais participam menos que as mães, chegando os pais a mostrar indiferença perante a relevância dessas formações. Programas mais atractivos e a alteração das crenças e atitudes dos progenitores. Estas atitudes surgem frequentemente em meios mais tradicionalistas que consideram que a educação dos filhos é tarefe maioritariamente função feminina. Para inverter esta tendência há que alterar crenças e atitudes dos progenitores, quanto ao processo educativo e à relevância destas formações.

É importante uma cuidadosa avaliação dos programa de formação parental de modo a identificar os elementos de sucesso das intervenções e permitir construir novos programa mais úteis e promotores do bem-estar das famílias.

As lacunas advêm de problemas metodológicos e teóricos como a não existência de grupos de controlo, a não replicação de programas (clientes e formadores podem variar), amostras pouco rigorosas, escassez de estudos de seguimento. Estas lacunas têm levado à introdução de metodologias quantitativas na avaliação. Este tipo de abordagem implica o desenvolvimento de um conjunto de questões abertas que se vão focalizando progressivamente através de processos de indução ou de intuição

A avaliação, que se torna cada vez mais frequente, apresenta geralmente valores positivos.
Este estudo teve por base uma metodologia qualitativa com base numa entrevista semi estruturada que foi tratada mediante análise de conteúdo, As entrevistas foram realizadas, a 18 pais que participaram em três programas que decorreram no Porto.

Fonte bibliográfica:
Abreu-Lima, I.; Pratinha,I. (2012) Avaliação de Intervenções de Formação Parental in Revista AMAzónica, ano 5, Vol VIII(1) jan-jun 2012 pp 210-245

quarta-feira, 31 de maio de 2017

Estratégias para fomentar a participação em programas de intervenção na parentalidade

Por Cláudia Sousa Andrade
O recrutamento e retenção de clientes, em programas de formação parental, por vezes é difícil e pode minar o sucesso do programa. Fatores como os afazeres dos cuidadores das crianças, as diferenças culturais entre técnicos e cliente, as dificuldades em termos de acessibilidade aos programas pelos participantes e ainda quando os programas não vão ao encontro das expectativas dos participantes.
Daremos seguidamente algumas estratégias que vão em princípio contrariar estas dificuldades:

envolvimento dos participantes no planeamento do programa (no sentido de tornar o programa mais apelativo, ir de encontro às espetativas doe elementos da comunidade e estabelecer um sentimento de confiança entre clientes/técnico, devido ao seu envolvimento com os membros da comunidade).

Ligar o programa a uma Instituição respeitada e de confiança (esta prática pode facilitar o seu reconhecimento pelos membros da comunidade e assim facilitar o recrutamento e a retenção dos participantes).

Escolher estrategicamente o local onde o programa vai decorrer (sempre que possível devem-se escolher lugares onde os clientes se sintam confortáveis e onde vão habitualmente. Devem também ser locais que sejam perto de sua casa ou cuja acessibilidade seja fácil).

Envolver outros membros da comunidade (a participação de familiares dos clientes e de membros de outras instituições da rede de suporte da comunidade, pode favorecer o empenho e a retenção dos participantes. Por exemplo, a realização de atividades que impliquem a participação dos filhos, ou dos pais, ou dos próprios vizinhos, pode ser importante e motivador para os clientes. Como membros de outras instituições, podemos ter uma enfermeira u o nutricionista do centro de saúde, um elemento da junta de freguesia ou da casa do povo, ou da PSP, etc.),

Utilizar pessoas culturalmente sensíveis para fazer o recrutamento e implementar o programa (As pessoas que fazem o recrutamento dos participantes, devem ser os mesmos que implementam o programa. Por isso além de estarem familiarizados com o programa, devem ser capazes de comunicar com os clientes, estabelecer uma relação de confiança com eles e não fazer julgamentos doa seus comportamentos ou ações).

Dar incentivos à participação (a oferta de pequenos presentes de apresso pela assiduidade, por ter atingido algum objetivo, ou por ter cumprido determinada ação. Estes presentes podem ser comprados mediante algum fundo de manei de que o programa, através da procura na comunidade de potenciais colaboradores ou mediante alguns serviços que sejam fornecidos gratuitamente pelas instituições de rede de apoio. Estes incentivos à participação podem surgir no âmbito da satisfação de necessidades básicas, ou ainda no âmbito da satisfação pessoal).

Ser flexível na definição do horário (os técnicos devem respeitar os compromissos dos participantes para com a sua família, a escola, ou a comunidade. Devem sim evitar a programação de atividades de forma a que o participante não tenha que escolher entre compromissos).

Manter contactos frequentes com os participantes (para além dos contactos presenciais, também os contactos telefónicos, por correio ou e´mail podem ajudar na retenção dos participantes. É muito importante ligar para um participante que faltou a uma sessão é faze-lo perceber que sentiu a sua falta no grupo, que é um elemento).

Fazer esforço para manter os mesmos técnicos ao longo da implementação do programa (as taxas de participação são mais altas, contribuindo também para o sucesso do programa, quando as relações de confiança entre técnicos e participantes se prolongam com o decorrer do programa).

Manter as promessas (Os técnicos devem seguir os procedimentos e manter os compromissos que tomaram com os participantes, nomeadamente em relação às compensações e aos incentivos à participação).


Ajudar os clientes a perceberem o potencial do programa (Sempre que os potenciais participantes acreditam que vale a pena a sua participação no programa, há maior probabilidade de permanecer até ao fim. Ações de marketing do programa, realizadas com apoio dos membros da comunidade, pode ajudar a reduzir o estigma que está por vezes associado a estes programas).

sábado, 22 de abril de 2017

Clientes involuntários em Programas de Intervenção na Parentalidade

Por Cláudia Sousa Andrade
Sendo o Programa de Intervenção na Parentalidade (PIP) um programa de caracter preventivo que não é obrigatório, as famílias participantes são sinalizadas por entidades comunitárias com responsabilidade em termos de infância e juventude, ou encaminhadas por entidades com competência legal, como os Tribunal, o que muitas vezes dificulta a manutenção dos próprios participantes no programa.

Cingolani, citado por Sotero & Relvas (2012) alega que este tipo de intervenção assume a existência de um conflito de interesses entre o sujeito e o contexto social, considerando assim clientes involuntários aqueles que têm que lidar com um profissional de ajuda, porque agiram de forma indesejável ou problemática para a sociedade de que são membros.

Sotero & Relvas (2012) e Dinis et al. (2014) referem que Thibaut e Kelley definem estas relações não voluntárias segundo vários elementos: 1º) a relação não é voluntária se o participante se sentir coagido psicológica ou legalmente a nela permanecer, sem que haja outras alternativas; 2º) a permanência nesta relação não é voluntária, porque a sua participação é considerada muito importante, tendo em consideração as suas alternativas de perda; 3º) o participante acredita que há melhores alternativas e que por isso está em desvantagem.

As mesmas autoras, citando Rooney, referem que os clientes involuntários podem ser identificados como clientes mandados e clientes não voluntários, atendendo à forma de pressão que experimentam. Assim os clientes mandados são aqueles que são sujeitos a uma ordem judicial; os clientes não voluntários sofrem pressões de entidades, de outras pessoas, ou de eventos exteriores, pelo que são também considerados involuntários invisíveis, uma vez que enfrentam pressões que não são de origem legal, são muitas vezes designados pelos técnicos como clientes voluntários resistentes, ou ainda, difíceis ou não cooperantes.

Sotero & Relvas (2012) afirmam, no entanto, que Chui & Ho, são da opinião que o estado inicial de involuntário pode mudar para voluntário e vice-versa, dependendo como o cliente perceciona os serviços.

Nos 13 projetos locais que implementamos em regime de participação não voluntária, em que o grupo inicial era composto por 12 cuidadores, em cada grupo, número que em média diminuiu para pouco mais de metade no final de todos os projetos locais. O convívio com os outros cuidadores, a relação de confiança estabelecida com os gestores de grupo, os conteúdos da formação e o seu carater muito lúdico, as atividades extra formação como os passeios e outros, pareceram ser serviços percebidos de forma positiva. pelos participantes.

De facto, como referem Dinis et al (2014), Yatchmenoff revela que ao invés do que se pensa, quando existem pais envolvidos com o sistema de proteção de crianças e jovens, estes apresentavam valores de recetividade mais altos, indicando um reconhecimento do problema identificado nos seus filhos, assim como da sua necessidade de ajuda. No entanto, isto só algumas vezes acontece pois amiúde traduz-se numa grande desconfiança ou mesmo relutância no envolvimento com os profissionais.

Dawson & Berry, citados pelos mesmos autores, concluíram que a atitude desta participantes pode alterar-se devido ao comportamento dos profissionais e/ou instituições, no seu envolvimento nos programas. Para isso revelam-se eficazes, comportamentos como: (1) definição de objetivos mutuamente satisfatórios; (2) prestação de serviços percecionados pelas famílias como úteis; (3) reconhecimento das suas potencialidades; (4) proporcionar às famílias tempo suficiente, para que possam demonstrar capacidades adquiridas e utilizarem os recursos necessários.

Brevemente o tema deste post será a estratégias mais indicadas para diminuir a desistência dos cuidadores.

Fontes bibliográficas:
Dinis, C., Ribeiro. T. & Francisco, R (2014) Promoção de Competências Parentais: adesão de famílias involuntárias in Ribeiro, T., Matos, P., Pinto, H. (Eds) Mediação Familiar: contributos de investigações realizadas em Portugal. Lisboa: Universidade Católica Editora. Pp 110-126

Sotero, L., Relvas, A. P. (2012) A intervenção com clientes involuntários: Complexidade e dilemas in  Psicologia & Sociedade 24(1) . pp 187-196