quarta-feira, 28 de junho de 2017

Abordagem qualitativa dos programas de competências parentais

Por Cláudia Sousa Andrade
 Considera-se que a família é o centro da sociedade. No entanto, nem sempre todas as famílias são capazes de se organizar para responder adequadamente às necessidades dos seus membros, devido à intervenção de diversos fatores.

O ambiente familiar proporcionado pelos pais tem um impacto inequívoco na trajetória desenvolvimental das crianças. A necessidade de apoio aos pais que por vezes é necessária, deu origem à intervenção parental. O desenvolvimento de projetos de formação parental que ajude os pais a melhorar o ambiente familiar, para os seus filhos tem-se verificado. É por isso que é importante, fazer a avaliação deste processo, para saber de sua eficácia.

O Conselho da Europa defina a parentalidade positiva como “ o conjunto de comportamentos parentais que procura o bem-estar da criança e o seu desenvolvimento integral desde uma perspetiva, de cuidado afeto, proteção, enriquecimento e segurança pessoal, de não-violência, que proporciona reconhecimento pessoal e pautas educativas, e inclui o estabelecimento de limites para promover o seu completo desenvolvimento, o sentimento de controlo da sua própria vida.”

Esta surge como uma parentalidade respeitosa que é apoiada nos direitos da criança, consistente com os princípios de não- discriminação, primazia do interesse superior da criança em todas as ações relativas a ela, direito da criança à sobrevivência e ao desenvolvimento máximo, o respeito pelos seus pontos de vista. É neste âmbito surge a intervenção na parentalidade e concretamente da formação parental.

A importância da formação parental resulta também no ser possível apoiar a família no contexto de formação, a nível dos comportamentos e de crenças educativas de modo a maximizar conscientemente o desenvolvimento integral das crianças.

A formação parental engloba programas educacionais cujo objetivos enquadram-se no apoio aos pais no desempenho de tarefas educativas para que o processo educativo facilite o desenvolvimento da criança e que seja recompensador para os pais.

Em função do grau de estruturação ou estandardização das intervenções foram identificadas 4 formas
1.       Intervenções internacionais estandardizadas com conteúdos, procedimentos e instrumentos definidos
2.       Intervenções nacionais estandardizadas, adaptadas para Portugal, e cuja eficácia não foi totalmente comprovada
3.       Intervenções estruturadas, construídas à medida, de acordo com a população a que se destina
4.       Intervenções flexíveis, construídas ao longo da do decorrer das sessões, em função das necessidades sentidas

Podem ter um caráter preventivo ou terapêutico (quanto à natureza).

Podem ainda ser divididas em função dos seus conteúdos, dos pressupostos teóricos, de contextos de realização ou da natureza da intervenção.

Visto que a pobreza constitui um importante fator de risco, que influencia as práticas educativas bem como os resultados da criança.

A investigação aponta caraterísticas pelas quais estas famílias são alvos importantes da formação parental: 1) baixos níveis educacionais dos pais, (provoca dificuldades no apoio escolar dos filhos e dificulta o envolvimento no contexto escolar de criança), 2) problemas de saúde, 3) desemprego, 4) desempenho de empregos de baixo estatuto social, 5) acontecimentos de vida negativos (divorcio ou desemprego) o que contribui para uma 6) parentalidade inconsistente (falta de afeto e condições que potenciam o maltrato infantil).

Obstáculos à formação parental: impedimentos de natureza financeira, política, social, preconceitos, poucos pais assistem.

Também se constata que os pais participam menos que as mães, chegando os pais a mostrar indiferença perante a relevância dessas formações. Programas mais atractivos e a alteração das crenças e atitudes dos progenitores. Estas atitudes surgem frequentemente em meios mais tradicionalistas que consideram que a educação dos filhos é tarefe maioritariamente função feminina. Para inverter esta tendência há que alterar crenças e atitudes dos progenitores, quanto ao processo educativo e à relevância destas formações.

É importante uma cuidadosa avaliação dos programa de formação parental de modo a identificar os elementos de sucesso das intervenções e permitir construir novos programa mais úteis e promotores do bem-estar das famílias.

As lacunas advêm de problemas metodológicos e teóricos como a não existência de grupos de controlo, a não replicação de programas (clientes e formadores podem variar), amostras pouco rigorosas, escassez de estudos de seguimento. Estas lacunas têm levado à introdução de metodologias quantitativas na avaliação. Este tipo de abordagem implica o desenvolvimento de um conjunto de questões abertas que se vão focalizando progressivamente através de processos de indução ou de intuição

A avaliação, que se torna cada vez mais frequente, apresenta geralmente valores positivos.
Este estudo teve por base uma metodologia qualitativa com base numa entrevista semi estruturada que foi tratada mediante análise de conteúdo, As entrevistas foram realizadas, a 18 pais que participaram em três programas que decorreram no Porto.

Fonte bibliográfica:
Abreu-Lima, I.; Pratinha,I. (2012) Avaliação de Intervenções de Formação Parental in Revista AMAzónica, ano 5, Vol VIII(1) jan-jun 2012 pp 210-245