sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Programas de Intervenção na Parentalidade e fatores de risco

Por Cláudia Andrade
É do conhecimento geral a importância das experiências vividas, no sucesso do desenvolvimento das crianças e jovens. É também comum a noção de que as situações de pobreza económica e o desconhecimento destas noções por parte dos cuidadores, limitam as possibilidades das crianças e dos jovens beneficiarem de experiências significativas que promovam o seu desenvolvimento e aprendizagem de forma plena e em segurança.
Tal como refere Machado (2012), citando autores como Engle, Felner e Shonkoff, crianças e jovens, oriundas de meios desfavorecidos, são sinalizadas como estando em risco, as próprias e as suas famílias. Atendendo às diversas privações cumulativas de que sofrem (deficit na alimentação e nos cuidados de saúde, cuidados parentais com falta de qualidade, entre os quais pode referir a exposição a comportamentos desviantes, a consumos, a violência, a maternidade na adolescência e a psicopatologia parental, o deficit na qualidade da educação, devido a falta de oportunidades e de interesse), comprometem o desenvolvimento e aprendizagem da criança e do adolescente, podendo conduzir a deficits cognitivos e na linguagem, o que aumenta a situação de risco.
Também a crise económica que atravessamos, que se traduz em desemprego, pobreza e incapacidade de dar melhores condições de vida às famílias, gera outros fatores de risco associados ao stress parental, que ao intervir nas relações pais criança ou jovem, pode provocar comportamentos maltratantes ou negligentes por parte dos cuidadores, o que por sua vez deteriora o processo de desenvolvimento e influência negativamente a aprendizagem. A ausência de fatores de proteção nas crianças, aumenta a sua vulnerabilidade.
Os pais influenciam o desenvolvimento dos seus filhos pela forma como exercem a parentalidade, atendendo que esta representa um conjunto de atividades executadas no sentido de assegurar a sobrevivência e desenvolvimento dos descendentes, que implicam um conjunto de fatores relativos a caraterísticas individuais dos cuidadores, a caraterísticas da criança e a fatores do contexto social alargado.
Machado (2012) refere que a situação de risco, conjugada com os fatores que têm a ver com as caraterísticas dos pais, da criança e do contexto social, encaminham os cuidadores no sentido da disfuncionalidade ou da fragilidade dos cuidados que presta.
Aponta ainda, citando Guralnick,uma proposta de abordagem sistémica global como quadro unificador das práticas de Intervenção Precoce, seguindo as orientações atuais de intervenção centrada na família e na coordenação dos serviços intervenientes. Ao intervir com a família, permite capacitar os seus membros, nomeadamente os cuidadores, a lidarem mais adequadamente com os comportamentos e particularidades dos filhos, bem como intervir no meio social e reduzir assim o risco de alteração do processo de desaenvolvimento.
Assim, os Programas de Intervenção na Parentalidade procuram através da intervenção com os cuidadores, fornecerem-lhes competências e capacidades parentais de forma a aprenderem a lidar com os comportamentos dos seus filhos, numa perspetiva reabilitativa, mas também habilitativa, no sentido de melhorarem o bem estar da família e de tornarem as suas crianças e jovens cidadãos atuantes e competentes.

Fonte: Machado, T. S. (2012) Risco ambiental e desenvolvimento na infância: justificando a Intervenção Precoce. Psicologia, Educação e Cultura XVI(1), 146-165