quinta-feira, 19 de maio de 2016

A dimensão comportamental da parentalidade

Por Cláudia Sousa Andrade

Quando falamos de parentalidade, temos que observar as suas três componentes que são: o comportamento (aquilo que os pais fazem na sua relação com os filhos); a cognição (refere-se ao que os pais pensam de e na sua relação com os seus filhos); e por fim a afetiva (referente ao que os pais sentem na relação com os filhos).

Hoje vamos falar apenas dos aspetos comportamentais da parentalidade e de como eles se traduzem na relação com os filhos. Nesta dimensão podem considerar-se dois tipos de abordagem essenciais nos comportamentos educativos e nas estratégias de sociabilização: as abordagens em termos de interação pais-filhos ou de cuidadores-educandos e as abordagens das técnicas disciplinares.
Relativamente à abordagem das interações pais filhos, temos que considerar o controlo parental, como um conjunto de técnicas empregues por uma pessoa (cuidador) com o intuito de mudar o curso da atividade de outra pessoa (criança ou jovem) (Shaffer & Crook, citados por Cruz, 2005). Este pode ser autoritário ou restritivo (controlo psicológico do estilo parental autoritário, que estimula na criança comportamentos de medo, dependência, submissão e passividade), o controlo parental relaxado (do estilo parental permissivo em que os cuidadores tendem a comportar-se de forma não punitiva e aceitante, face aos impulsos, desejos e ações da criança) e um controlo firme (que estimula na criança um sentido de controlo sobre o envolvimento, promovendo um sentimento de eficácia; estimula ainda na criança a independência, a individualidade, a responsabilidade social e a obediência) (Cruz, 2005).

Em termos da abordagem relativa aos comportamentos disciplinares, podemos dizer que se refere a um comportamento que é utilizado pelos cuidadores, como resposta a um comportamento da criança, considerado indesejável do ponto de vista social, moral ou convencional, isto é, susceptível de criar um conflito de interesses ou desejos da criança e os requisitos das normas e valores afirmados pelos cuidadores. Nestas condições, o cuidador é sempre detentor de maior poder nesta relação[i].
As categorias de comportamentos disciplinares educativas parentais são as seguintes:

Técnicas de afirmação de poder: inclui todas as técnicas que implicam directamente a aplicação de uma força explicita como a punição física e não física (retirada de objectos ou privilégios), ameaças de punição e dar ordens sem explicação. A autoridade parental e a posição de poder dos cuidadores, justifica a frustração das necessidades e desejos da criança/jovem. Este tipo de técnica parece não ter efeitos duradouros na integração de regras de conduta, ameaçando a autonomia e a liberdade de ação da criança/jovem ao exigir a alteração do seu atitude e dando por isso origem a comportamentos de agressividade, de oposição e a sentimentos de hostilidade.

Técnicas de retirada de afeto: implicam comportamentos parentais tais como desaprovar, ridicularizar e ignorar a criança/jovem, exprimir frieza, desapontamento e desinteresse. O princípio subjacente é o de que os cuidadores têm o poder para gratificar ou não a criança/jovem, do ponto de vista afetivo, material e físico. Tal como nas técnicas de afirmação de poder, a criança/jovem cumprem as exigências que lhes são impostas, para evitar as consequências que daí advêm. A punição com retirada de afeto à criança, vai intensificar as suas necessidades de aproximação aos cuidadores com vista ao restabelecimento da relação afetiva. Esta técnica só tem efeito, dependendo da qualidade do afeto retirado (Sears, et al, citados por Cruz, 2005), Esta técnica não está associada á (Cruz, 2005)

Finalmente, temos as técnicas indutivas que correspondem a uma forma não punitiva de disciplina, em que os pais tentam raciocinar com a criança, com o objetivo de que esta entenda porque necessita seguir regras e normas, porque é que as transgressões são erradas e como podem alterar o seu comportamento para que não haja erros de futuro e para que possa reparar prejuízos. Esta técnica é desenvolvida por meio da comunicação verbal, através da qual, o cuidador dá explicações factuais sobre constrangimentos físicos, utiliza constrangimentos morais, regras de conduta, princípios e valores, apela ao orgulho, ao esforço para fazer as coisas bem, à reparação do mal causado, ao sentimento de culpa e também, a atribuições e explicações das consequências do comportamento para outras pessoas ou objetos. Pode afirmar-se que a indução encoraja a criança a aceitar responsabilidades pelas suas ações e a verificar o ponto de vista do outro (Cruz, 2005)

Os cuidadores têm tendência a utilizar estas técnicas em conjunto, tanto de forma sequencial como em simultâneo.



[i] A perceção que os cuidadores têm de si próprios como possuindo pouco poder em relação à criança, pode levá-los a entender o comportamento desta como ameaçados, desencadeando maus-tratos (Bugental, citado por Cruz, 2005)


Bibliografia:
Cruz, O (2005) Parentalidade 1ª Edição. Coleção Psicólogos. Editora Quarteto, Coimbra, junho 2005

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