A dimensão comportamental da parentalidade
Por Cláudia Sousa Andrade
Quando falamos de parentalidade,
temos que observar as suas três componentes que são: o comportamento (aquilo
que os pais fazem na sua relação com os filhos); a cognição (refere-se
ao que os pais pensam de e na sua relação com os seus filhos); e por fim a
afetiva (referente ao que os pais sentem na relação com os filhos).
Hoje vamos falar apenas dos
aspetos comportamentais da parentalidade e de como eles se traduzem na relação
com os filhos. Nesta dimensão podem considerar-se dois tipos de abordagem
essenciais nos comportamentos educativos e nas estratégias de sociabilização:
as abordagens em termos de interação pais-filhos ou de cuidadores-educandos e
as abordagens das técnicas disciplinares.
Relativamente à abordagem das
interações pais filhos, temos que considerar o controlo parental, como um conjunto
de técnicas empregues por uma pessoa (cuidador) com o intuito de mudar o curso
da atividade de outra pessoa (criança ou jovem) (Shaffer & Crook, citados
por Cruz, 2005). Este pode ser autoritário ou restritivo (controlo psicológico
do estilo parental autoritário, que estimula na criança comportamentos de medo,
dependência, submissão e passividade), o controlo parental relaxado (do estilo
parental permissivo em que os cuidadores tendem a comportar-se de forma não
punitiva e aceitante, face aos impulsos, desejos e ações da criança) e um
controlo firme (que estimula na criança um sentido de controlo sobre o
envolvimento, promovendo um sentimento de eficácia; estimula ainda na criança a
independência, a individualidade, a responsabilidade social e a obediência) (Cruz,
2005).
Em termos da abordagem relativa
aos comportamentos disciplinares, podemos dizer que se refere a um
comportamento que é utilizado pelos cuidadores, como resposta a um
comportamento da criança, considerado indesejável do ponto de vista social,
moral ou convencional, isto é, susceptível de criar um conflito de interesses
ou desejos da criança e os requisitos das normas e valores afirmados pelos
cuidadores. Nestas condições, o cuidador é sempre detentor de maior poder nesta
relação[i].
As categorias de comportamentos disciplinares
educativas parentais são as seguintes:
Técnicas de afirmação de poder: inclui todas as técnicas que implicam
directamente a aplicação de uma força explicita como a punição física e não física (retirada
de objectos ou privilégios), ameaças de
punição e dar ordens sem explicação.
A autoridade parental e a posição de poder dos cuidadores, justifica a
frustração das necessidades e desejos da criança/jovem. Este tipo de técnica
parece não ter efeitos duradouros na integração de regras de conduta, ameaçando
a autonomia e a liberdade de ação da criança/jovem ao exigir a alteração do seu
atitude e dando por isso origem a comportamentos de agressividade, de oposição
e a sentimentos de hostilidade.
Técnicas de retirada de afeto: implicam comportamentos parentais
tais como desaprovar, ridicularizar e ignorar a criança/jovem, exprimir
frieza, desapontamento e desinteresse. O princípio subjacente é
o de que os cuidadores têm o poder para gratificar ou não a criança/jovem, do
ponto de vista afetivo, material e físico. Tal como nas técnicas de afirmação
de poder, a criança/jovem cumprem as exigências que lhes são impostas, para
evitar as consequências que daí advêm. A punição com retirada de afeto à
criança, vai intensificar as suas necessidades de aproximação aos cuidadores
com vista ao restabelecimento da relação afetiva. Esta técnica só tem efeito,
dependendo da qualidade do afeto retirado (Sears, et al, citados por Cruz,
2005), Esta técnica não está associada á (Cruz, 2005)
Finalmente, temos as técnicas indutivas que correspondem a
uma forma não punitiva de disciplina,
em que os pais tentam raciocinar com a criança, com o objetivo de que esta
entenda porque necessita seguir regras e normas, porque é que as transgressões
são erradas e como podem alterar o seu comportamento para que não haja erros de
futuro e para que possa reparar prejuízos. Esta técnica é desenvolvida por meio
da comunicação verbal, através da qual, o cuidador dá explicações factuais sobre
constrangimentos físicos, utiliza constrangimentos morais, regras de conduta, princípios
e valores, apela ao orgulho, ao esforço para fazer as coisas bem, à reparação
do mal causado, ao sentimento de culpa e também, a atribuições e explicações
das consequências do comportamento para outras pessoas ou objetos. Pode afirmar-se
que a indução encoraja a criança a aceitar responsabilidades pelas suas ações e
a verificar o ponto de vista do outro (Cruz, 2005)
Os cuidadores têm tendência a
utilizar estas técnicas em conjunto, tanto de forma sequencial como em simultâneo.
[i]
A perceção que os cuidadores têm de si próprios como possuindo pouco poder em
relação à criança, pode levá-los a entender o comportamento desta como
ameaçados, desencadeando maus-tratos (Bugental, citado por Cruz, 2005)
Bibliografia:
Cruz, O (2005) Parentalidade
1ª Edição. Coleção Psicólogos. Editora Quarteto, Coimbra, junho 2005
Sem comentários:
Enviar um comentário