Por Cláudia Sousa Andrade
O nascimento de um filho traz
associados sentimentos de satisfação e stress. A primeira identificada como uma
qualidade do afeto associado à parentalidade, como sentimentos de contentamento
e de gratificação que os pais sentem relativamente às suas responsabilidades
parentais (Martins, 2008) e a segunda tem a ver com um certo grau de incerteza
relativamente às suas ações parentais.
O controlo pré-natal, fruto da
democratização dos contraceptivos, que estão altamente generalizados, o que implica
que hoje ter filhos corresponde a um momento específico, em que ocorre uma
seleção importante e é desenvolvido um grande investimento e não um acaso como
quase sempre ocorria. Isto faz com que com que a família surja como fonte de
satisfação psicológica (Martins, 2008).
Na revisão da literatura realizada, verificou-se que Goetting (1986)
refere o facto de não existir nenhuma conceptualização ou medida padrão da
satisfação parental e de que constitui um construto vago, de difícil avaliação
e definição, dado envolver muita subjectividade e ser multidimensional.
Vários estudos realizados, referem que a satisfação parental varia em
função de variáveis como o género dos pais, o seu nível de formação e situação
laboral, o estado civil. Também foram encontradas diferenças em função da idade
da criança, do seu género e do número de filhos. Os papéis de educação
parental, a satisfação conjugal, a rede de suporte social, do ponto do ciclo de
vida em que a família se encontra, são alguns dos estudos sobre a variação da
satisfação parental (Goetting, 1986).
A parentalidade segundo Vieira & Matos (2011) constitui-se como uma
tarefa que propicia a sentimentos de satisfação, gratificação e de realização
pessoal, sendo ainda para o pai e/ou a mãe, uma tarefa positiva e
emocionalmente compensadora. Por outro lado, não deixa de ser uma tarefa
complexa e altamente exigente que coloca desafios constantes e multifacetados e
surge numerosas vezes como um percurso cheio de dificuldades. Criar e educar
uma criança é um processo desafiante que requer tempo, paciência e recursos
económicos (Martins, 2008) e como tal poderá ser uma importante fonte de stress
e insatisfação.
Cruz (2005) refere a importância das três componentes da parentalidade
e ainda a importância de as considerar de forma integrada: comportamento,
cognições e afetos. O sentimento global de satisfação (ou insatisfação)
parental poderá ser consequência também positivas (ou negativas) nos indivíduos
enquanto pais:
- Quando percepcionam a existência de alguma coerência entre os princípios educativos que defende e a forma como atua e os põe em ação;
- Quando perceciona se existe concordância entre os comportamentos de criança, o seu desenvolvimento e as suas expetativas para com ela;
- Quando se sentem competentes no seu papel parental, isto é, quando o que observam corresponde ao que gostaria de observar na criança.
A autora refere ainda que as emoções têm um papel essencial na
regulação do comportamento. Por isso verifica-se que os afetos positivos estão
relacionados com o desenvolvimento saudável e harmonioso da criança, enquanto
os afetos negativos podem ou não ter efeitos adversos no desenvolvimento, pois
podem por um lado ser desadaptativas e/ou podem por outro, servir de motor para
alcançar ou modificar algo.
No entanto, como referem Vieira & Matos (2011) situações de maior
stress parental, que correspondem a situações de maior dificuldade de interação
pais-filhos e maiores problemáticas no funcionamento familiar, estão também
ligadas a situações de abuso e negligencia parental.
Bibliografia:
Cruz, O (2005) Parentalidade 1ª Edição. Coleção Psicólogos.
Editora Quarteto, Coimbra, junho 2005
Goetting, A (1986)
Parental Satisfaction: A Review of Research
in Journal of Family Issues 7(1) Mach 1986 Sage Publications Inc.
pp: 83-109
Martins, S. (2008) Satisfação parental e Impacto familiar.
Contribuição para a validação de dois instrumento Mestrado em Psicologia da
Gravidez e da Parentalidade. ISPA pp: 18-24
Vieira, J.; Matos, P. (2011) Preditores de satisfação e do stress na
parentalidade: o papel da vinculação romântica in Psicologia, Educação e
Cultura XV(1)P.P.C.M.C.M. pp: 125-144