sábado, 18 de março de 2017

Satisfação ou stress parental

Por Cláudia Sousa Andrade

O nascimento de um filho traz associados sentimentos de satisfação e stress. A primeira identificada como uma qualidade do afeto associado à parentalidade, como sentimentos de contentamento e de gratificação que os pais sentem relativamente às suas responsabilidades parentais (Martins, 2008) e a segunda tem a ver com um certo grau de incerteza relativamente às suas ações parentais.
O controlo pré-natal, fruto da democratização dos contraceptivos, que estão altamente generalizados, o que implica que hoje ter filhos corresponde a um momento específico, em que ocorre uma seleção importante e é desenvolvido um grande investimento e não um acaso como quase sempre ocorria. Isto faz com que com que a família surja como fonte de satisfação psicológica (Martins, 2008).
Na revisão da literatura realizada, verificou-se que Goetting (1986) refere o facto de não existir nenhuma conceptualização ou medida padrão da satisfação parental e de que constitui um construto vago, de difícil avaliação e definição, dado envolver muita subjectividade e ser multidimensional.
Vários estudos realizados, referem que a satisfação parental varia em função de variáveis como o género dos pais, o seu nível de formação e situação laboral, o estado civil. Também foram encontradas diferenças em função da idade da criança, do seu género e do número de filhos. Os papéis de educação parental, a satisfação conjugal, a rede de suporte social, do ponto do ciclo de vida em que a família se encontra, são alguns dos estudos sobre a variação da satisfação parental (Goetting, 1986).
A parentalidade segundo Vieira & Matos (2011) constitui-se como uma tarefa que propicia a sentimentos de satisfação, gratificação e de realização pessoal, sendo ainda para o pai e/ou a mãe, uma tarefa positiva e emocionalmente compensadora. Por outro lado, não deixa de ser uma tarefa complexa e altamente exigente que coloca desafios constantes e multifacetados e surge numerosas vezes como um percurso cheio de dificuldades. Criar e educar uma criança é um processo desafiante que requer tempo, paciência e recursos económicos (Martins, 2008) e como tal poderá ser uma importante fonte de stress e insatisfação.
Cruz (2005) refere a importância das três componentes da parentalidade e ainda a importância de as considerar de forma integrada: comportamento, cognições e afetos. O sentimento global de satisfação (ou insatisfação) parental poderá ser consequência também positivas (ou negativas) nos indivíduos enquanto pais:
  •     Quando percepcionam a existência de alguma coerência entre os princípios educativos que defende e a forma como atua e os põe em ação; 
  •      Quando perceciona se existe concordância entre os comportamentos de criança, o seu desenvolvimento e as suas expetativas para com ela;
  •          Quando se sentem competentes no seu papel parental, isto é, quando o que observam corresponde ao que gostaria de observar na criança.

A autora refere ainda que as emoções têm um papel essencial na regulação do comportamento. Por isso verifica-se que os afetos positivos estão relacionados com o desenvolvimento saudável e harmonioso da criança, enquanto os afetos negativos podem ou não ter efeitos adversos no desenvolvimento, pois podem por um lado ser desadaptativas e/ou podem por outro, servir de motor para alcançar ou modificar algo.
No entanto, como referem Vieira & Matos (2011) situações de maior stress parental, que correspondem a situações de maior dificuldade de interação pais-filhos e maiores problemáticas no funcionamento familiar, estão também ligadas a situações de abuso e negligencia parental.

Bibliografia:
Cruz, O (2005) Parentalidade 1ª Edição. Coleção Psicólogos. Editora Quarteto, Coimbra, junho 2005
Goetting, A (1986) Parental Satisfaction: A Review of Research  in Journal of Family Issues 7(1) Mach 1986 Sage Publications Inc. pp: 83-109
Martins, S. (2008) Satisfação parental e Impacto familiar. Contribuição para a validação de dois instrumento Mestrado em Psicologia da Gravidez e da Parentalidade. ISPA  pp: 18-24

Vieira, J.; Matos, P. (2011) Preditores de satisfação e do stress na parentalidade: o papel da vinculação romântica in Psicologia, Educação e Cultura XV(1)P.P.C.M.C.M. pp: 125-144

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