Por Cláudia Sousa Andrade
Se até aos finais do século XX, a
educação parental tinha um caracter sobretudo “remediativo” para famílias de
risco, centrado no profissional cujo papel era ensinar áquelas famílias as “boas
práticas de educação “. A partir da década de 80 este modelo médico que
trabalhava essencialmente, as falhas com base no treino, foi sendo substituído
por um modelo de tipo sociocultural , bio-ecológico, multissistémico , baseado
nas potencialidades.
Os fatores familiares são muito
importantes tanto como fatores de proteção, como fatores de vulnerabilidade. É
por isso que as intervenções centradas nos pais ou na famílias são consideradas
mais prometedoras na prevenção, no diagnóstico na educação da criança e decisão
quanto ao seu projeto de vida.
Assim, quando se fala de uma
forma de intervenção com foco nos pais, está-se a referir a Formação Parental
que é um “conjunto de atividades educativas e de suporte que ajudam os pais a
compreenderem as suas necessidades sociais, emocionais, psicológicas e físicas,
as dos seus filhos e aumentem a qualidade da relações entre eles” (Gaspar, F;
2003)
Estas são atividades que vão
contribuir para as comunidades pela criação de um conjunto de serviços cujo
principal objetivo é o alargamento e a construção de serviços na rede de suporte das famílias, que sejam acessíveis.
A Educação Parental tem como objetivo último ajudar os pais a
desenvolver o autoconhecimento e a autoconfiança, aumentado a sua capacidade,
apoiarem e ajudarem o desenvolvimento das criança, numa perspectiva de melhorar
a qualidade das relações entre pais e filhos, através de refleção, da promoção
da mudança e da educação de forma mais pessoal, profunda e experiencial. Surge
como uma abordagem preventiva, com objetivos de prevenção de comportamentos e
padrões disfuncionais
Esta é uma forma de apoia aos
pais, tal como o Treino Parental. Este
modo de apoio parental está
associado ao trabalho com pais de crianças com problemas de comportamento, em
situações de crise e de perigo dos maus tratos e negligencia. Este tipo de
intervenção visa a mudança de práticas parentais, tendo como objetivo a
intervenção em problemas específicos.
Estas duas formas de apoio parental visam
proporcionar-lhes informações práticas e conhecimentos, através da transmissão
de princípios de aprendizagem e de modificação de comportamentos que vão
promover competências parentais, comunicacionais e de resolução de problemas. Ambas as intervenções promovem a existência de
um espaço de autoconhecimento, de partilha e reflexão de sentimentos, emoções,
dúvidas e problemas.
Enquanto alguns autores defendem a permanência
do termo “educação parental” apesar de vir do modelo médico, outros como Dunst
ou Mahoney, propõe a sua reformulação e um reinvestimento neste domínio de
trabalho em parceria com as famílias.
Temos então como objetivos da
formação parental a mudança, a educação que seja pessoal, experimental e bastante
profunda, que não pretenda apenas informar. Em termos de áreas especificas,
estes objetivos enquadra-se:
- Promover os conhecimentos dos pais
- Desenvolver competências de prestação de cuidados
- Estimular e melhorar a relação pais-criança a aquisição de aptidões, especificas por parte das crianças
- Promover o autoconhecimento dos pais ou futuros pais
- Promover modificações positivas na autoconfiança
- Aumentar a satisfação no desempenho das funções parentais
- Resposta às necessidades da família de forma abrangente (de forma preventiva ou intervenção em situação de crise)
- Percepcionar os pais como elementos competentes
- Incentivar o apoio das redes sociais formais e informais
- Introduzir melhorias no processos interactivos
- Aumentar o conhecimento sobre o desenvolvimento da criança
- Promover competências de relacionamento entre pais-criança
- Prevenir situações de maus-tratos e negligencia
Resumindo, estes
objetivos devem enquadrar-se nos seguintes conceitos:
- Capacitar: criar oportunidade para que todos os membros da família possam demonstrar e adquirir competências que consolidar o funcionamento familiar
- Corresponsabilizar: a capacidade que toda a família deve demonstrar de satisfação das suas necessidades e aspirações, de forma a promover um sentido claro de controlo e domínio intrafamiliar
O risco de “escolarização da vida
familiar” e “hiperestimulação da criança” são alguns dos problemas que se podem
colocar frente à indicação de educação parental. No entanto, a sua necessidade
e importância é consensual desde que seja enquadrada num paradigma de promoção
de competências e não num de “remediação”. Este é o paradigma com que se conceptualiza
hoje a educação parental, com a possibilidade de Capacitar, Corresponsabilizar
e Co-evoluir, assente numa perspetiva de que os pais e família são competentes
e de reflexão sobre a relação entre os pais e os profissionais.
Este paradigma só pode acontecer
pela persecução de um modelo
colaborativo o que implica:
- Abandonar o papel de perito que ensina competências aos pais e trabalhar conjuntamente com estes, tendo em consideração o seu contexto ecológico, envolvendo-os ativamente no processo de partilha de experiências, discussão de ideias, sentimentos e resolução de problemas; Construir uma relação não culpabilizante, apoiante e recíproca, com respeito pelo contributo de cada pessoa, na confiança e na comunicação aberta;
- Assumir uma perspectiva de empowerment, funcionando como uma via importante para a promoção da confiança, da autossuficiência e da autoeficácia dos pais;
- Os pais assumem um papel relevante no desenvolvimento de respostas para as suas questões e dificuldades, em colaboração com o técnico;
- O técnico fica responsável pela criação de um contexto apoiante e adaptado às caraterísticas, necessidades e valores do publico alvo.
A formação parental assume assim um papel importante na Promoção da Parentalidade Positiva que segundo o Conselho da Europa (Recomendação 16, Lisboa 2016) a define como "comportamentos parentais baseados no superior interesse da criança e que assegura as principais necessidades das crianças, a sua capacitação sem violência, proporcionando-lhe o reconhecimento e a orientação necessária, o que implica a fixação de limites ao seu comportamento, para possibilitar o seu pleno desenvolvimento"
in http://reflexoespsikologicas.blogspot.pt/2011/10/formacao-parental-ou-procura-de.html consultado a 19.09.2017
in http://reflexoespsikologicas.blogspot.pt/2011/10/formacao-parental-ou-procura-de.html consultado a 19.09.2017