quarta-feira, 20 de setembro de 2017

O Modelo colaborativo

Por Cláudia Sousa Andrade
     Se até aos finais do século XX, a educação parental tinha um caracter sobretudo “remediativo” para famílias de risco, centrado no profissional cujo papel era ensinar áquelas famílias as “boas práticas de educação “. A partir da década de 80 este modelo médico que trabalhava essencialmente, as falhas com base no treino, foi sendo substituído por um modelo de tipo sociocultural , bio-ecológico, multissistémico , baseado nas potencialidades.
    Os fatores familiares são muito importantes tanto como fatores de proteção, como fatores de vulnerabilidade. É por isso que as intervenções centradas nos pais ou na famílias são consideradas mais prometedoras na prevenção, no diagnóstico na educação da criança e decisão quanto ao seu projeto de vida.
    Assim, quando se fala de uma forma de intervenção com foco nos pais, está-se a referir a Formação Parental que é um “conjunto de atividades educativas e de suporte que ajudam os pais a compreenderem as suas necessidades sociais, emocionais, psicológicas e físicas, as dos seus filhos e aumentem a qualidade da relações entre eles” (Gaspar, F; 2003)
Estas são atividades que vão contribuir para as comunidades pela criação de um conjunto de serviços cujo principal objetivo é o alargamento e a construção de serviços na rede de  suporte das famílias, que sejam acessíveis.
     A Educação Parental tem como objetivo último ajudar os pais a desenvolver o autoconhecimento e a autoconfiança, aumentado a sua capacidade, apoiarem e ajudarem o desenvolvimento das criança, numa perspectiva de melhorar a qualidade das relações entre pais e filhos, através de refleção, da promoção da mudança e da educação de forma mais pessoal, profunda e experiencial. Surge como uma abordagem preventiva, com objetivos de prevenção de comportamentos e padrões disfuncionais
Esta é uma forma de apoia aos pais, tal como o Treino Parental. Este modo de apoio parental está associado ao trabalho com pais de crianças com problemas de comportamento, em situações de crise e de perigo dos maus tratos e negligencia. Este tipo de intervenção visa a mudança de práticas parentais, tendo como objetivo a intervenção em problemas específicos.
   Estas duas formas de apoio parental visam proporcionar-lhes informações práticas e conhecimentos, através da transmissão de princípios de aprendizagem e de modificação de comportamentos que vão promover competências parentais, comunicacionais e de resolução de problemas.  Ambas as intervenções promovem a existência de um espaço de autoconhecimento, de partilha e reflexão de sentimentos, emoções, dúvidas e problemas.
     Enquanto alguns autores defendem a permanência do termo “educação parental” apesar de vir do modelo médico, outros como Dunst ou Mahoney, propõe a sua reformulação e um reinvestimento neste domínio de trabalho em parceria com as famílias.
    Temos então como objetivos da formação parental a mudança, a educação que seja pessoal, experimental e bastante profunda, que não pretenda apenas informar. Em termos de áreas especificas, estes objetivos enquadra-se:

  •         Promover os conhecimentos dos pais
  •          Desenvolver competências de prestação de cuidados
  •        Estimular e melhorar a relação pais-criança a aquisição de aptidões, especificas por parte das crianças
  • Promover o autoconhecimento dos pais ou futuros pais
  • Promover modificações positivas na autoconfiança
  • Aumentar a satisfação no desempenho das funções parentais
  • Resposta às necessidades da família de forma abrangente (de forma preventiva ou intervenção em situação de crise)
  •  Percepcionar os pais como elementos competentes
  •  Incentivar o apoio das redes sociais formais e informais
Nas famílias de crianças em situação de risco, pretende-se:
  •  Introduzir melhorias no processos interactivos
  •  Aumentar o conhecimento sobre o desenvolvimento da criança
  •  Promover competências de relacionamento entre pais-criança
  •  Prevenir situações de maus-tratos e negligencia

    Resumindo, estes objetivos devem enquadrar-se nos seguintes conceitos:
  1.   Capacitar: criar oportunidade para que todos os membros da família possam demonstrar e adquirir competências que consolidar o funcionamento familiar
  2.  Corresponsabilizar: a capacidade que toda a família deve demonstrar de satisfação das suas necessidades e aspirações, de forma a promover um sentido claro de controlo e domínio intrafamiliar

  O risco de “escolarização da vida familiar” e “hiperestimulação da criança” são alguns dos problemas que se podem colocar frente à indicação de educação parental. No entanto, a sua necessidade e importância é consensual desde que seja enquadrada num paradigma de promoção de competências e não num de “remediação”. Este é o paradigma com que se conceptualiza hoje a educação parental, com a possibilidade de Capacitar, Corresponsabilizar e Co-evoluir, assente numa perspetiva de que os pais e família são competentes e de reflexão sobre a relação entre os pais e os profissionais.
     Este paradigma só pode acontecer pela persecução de um modelo colaborativo o que implica:
  •      Abandonar o papel de perito que ensina competências aos pais e trabalhar conjuntamente com estes, tendo em consideração o seu contexto ecológico, envolvendo-os ativamente no processo de partilha de experiências, discussão de ideias, sentimentos e resolução de problemas;      Construir uma relação não culpabilizante, apoiante e recíproca, com respeito pelo contributo de cada pessoa, na confiança e na comunicação aberta;
  •    Assumir uma perspectiva de empowerment, funcionando como uma via importante para a promoção da confiança, da autossuficiência e da autoeficácia dos pais;
  •      Os pais assumem um papel relevante no desenvolvimento de respostas para as suas questões e dificuldades, em colaboração com o técnico;
  •     O técnico fica responsável pela criação de um contexto apoiante e adaptado às caraterísticas, necessidades e valores do publico alvo.
          A formação parental assume assim um papel importante na Promoção da Parentalidade Positiva que segundo o Conselho da Europa (Recomendação 16, Lisboa 2016)  a define como "comportamentos parentais baseados no superior interesse da criança e que assegura as principais necessidades das crianças, a sua capacitação sem violência, proporcionando-lhe o reconhecimento e a orientação necessária, o que implica a fixação de limites ao seu comportamento, para possibilitar o seu pleno desenvolvimento"

in http://reflexoespsikologicas.blogspot.pt/2011/10/formacao-parental-ou-procura-de.html consultado a 19.09.2017


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