quarta-feira, 30 de maio de 2018

Anos Incríveis - um programa de competências parentais



Elaborado por Cláudia Sousa Andrade
O programa Anos Incríveis é um programa de competências parentais, criado por Carolyn Webster Statton para reduzir problemas de comportamento e promover competências sociais e emocionais em crianças e é uma dos programas aplicados em Portugal pela Universidade de Coimbra, à população portuguesa.
Em relação ao programa Anos Incríveis para pais (AI – P), que se trata de um programa que em termos de contextualização tem como objetivo geral a promoção da saúde mental em crianças, através da intervenção sobre os pais. Prevê a promoção de estilos parentais e educativos positivos e apoiantes, enquanto por outro lado procura diminuir estilos parentais e educativos negativos e severos. Para as crianças tem como objetivo diminuir comportamentos agressivos e opositivos desde cedo e promover competências sociais e de auto-regulação.
 É desenvolvido com grupos de 12 pais de crianças com idades compreendidas entre os 3 e os 8 a os anos. O cuidador envolvido, é o pai a mãe ou outro, tendo a formação lugar na comunidade. Ocorre ao longo de 12 a 14 sessões, sendo moderado por 2 facilitadores com formação específica na versão do programa que aplicam.
O programa assenta numa base teórica que inclui as teorias da aprendizagem social, de auto eficiência e da vinculação. Em termos metodológicos, este programa recorre a uma abordagem colaborativa em que se utilizam métodos ativos como: modelação por vídeos, role-plays e repetições, trabalhos de casa, apoio nas atividades e discussões em grupo.
Em termos de apoio logístico é necessário, fácil acesso ao local, bom ambiente, transporte, horários, baby sittiing, É ainda necessário manuais detalhados para os dinamizadores, DVD, livros e materiais para formar os pais.
Segundo Seabra-Santos, et al, 2016, desde a publicação do primeiro programa da série, que foi desenhado para apoiar pais de crianças entre os 2 e os 8 anos para melhoria das suas práticas parentais, vários outros foram propostos até ao presente, sendo que esta série inclui agora programas para os pais, para professores e para crianças, tendo sempre estas últimas como alvo de mudança.
O amplo suporte empírico que o programa AI-P tem vindo a alcançar ao longo de 35 anos, incluiu este nos directórios internacionais de intervenções baseadas em evidências. Embora estudos relacionados com estes programas dêem maior visibilidade a comportamentos relacionados com a diminuição da agressividade e de oposição, também o AI-P se tem mostrado eficaz na promoção de competências socio emocionais (Seabra-Santos, M.J., et al, 2016, citando Mentig, et al). Deste modo, enquanto ocorre a intervenção direta com os pais, o programa visa aumentar as práticas parentais positivas, capacitar os pais enquanto “treinadores” de competências sociais nas crianças e como “modelos” eficazes de competências sócio emocionais, fortalecendo as relações pais-filhos. Estes estudos revelam ainda uma melhoria na comunicação e na resolução de problemas no seio da família. Com base em estudos de follow up, estes efeitos mantêm-se ao longo do tempo (Seabra-Santos, et al, 2016).
As mesmas autoras referem que as sucessivas replicações que têm com o programa AI-P e que têm ocorrido em diversos países, têm-se traduzido em estudos que tem revelado resultados positivos a curto, médio e longo prazo, não só a nível dos comportamentos das crianças, mas também com as práticas parentais, permitindo a transportabilidade para outros países, nos quais se inclui Portugal.
Em Portugal, mais especificamente no seio do concelho de Coimbra, foi realizado um outro estudo, do qual fizeram parte 102 pais e mães de 82 crianças entre os 3 e os 6 anos. Deste estudo resultam a nível das práticas parentais uma diminuição da rigidez disciplinar e aumento da disciplina apropriada. Também se regista um aumento do sentido da competência parental. Ao nível das crianças regista-se um aumento das aptidões sociais e uma diminuição de problemas de comportamento. A nível da avaliação da satisfação parental dos pais, estes avaliaram as sessões positivamente a nível dos conteúdos.
Foi, assim, colocado em evidência a utilidade prática deste programa e a sua dinamização enquanto meio para intervir e promover a saúde mental em crianças, mediante a intervenção dos seus pais.                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                      
Fontes Bibliográficas:
Seabra-Santos, M. J; Gaspar M.F,; Homem, T.C.; Azevedo, A.; Silva, I.; & Vale, V. (2016) Promoção de Competências Sociais e Emocionais: Contributos dos Programas Anos Incríveis in A.M. Pinto; R. Raimundo (Eds), Avaliação e promoção de competências socio-emocionais em Portugal pp 227-260. Vialonga: coisas para ler.


quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

Transição para a parentalidade

Por Cláudia Sousa Andrade
O nascimento de um filho provoca um período de instabilidade nos comportamentos, com a entrada numa nova fase do ciclo de vida da família, a complexificação e ampliação
do sistema familiar e a transição para a parentalidade. Verifica-se que a transição para a parentalidade é considerada uma fase das mais dramáticas e intensas que o ser humano enfrenta (Martins et al, 2017).
A aquisição das competências parentais é uma tarefa complexa, para a qual são necessárias adaptações e reorganizações, que podem por em risco a saúde e o bem-estar dos adultos bem como o desenvolvimento da criança. Esta é também uma tarefa multidimensional que engloba aspetos de dimensão pessoal, cultural, da  padíade e social (Gauthier & deMontigny, citados por Martins et al, 2017)
A transição para a parentalidade é facilitada ou dificultada por vários fatores como seja o significado que a própria situação tem para os pais, por atitudes e crenças, conhecimento e preparação para o seu exercício. A nível da social, também esta dimensão pode facilitar ou dificultar a transição, em termos de suporte familiar, o nível socioeconómico e cultural, etc.
No âmbito das funções da parentalidade os pais apresentam respostas comportamentais, emocionais e cognitivas, e as suas funções enquadram-se na “satisfação das necessidades básicas”, em “ disponibilizar à criança um mundo físico organizado e previsível”, em “satisfazer as necessidades de afeto, da confiança e de segurança”, bem como satisfazer as “necessidades de interação social da criança” e as  “necessidades de compreensão cognitiva das realidades extrafamiliares”  (Cruz, 2005).Estas funções enquadram-se no artigo 27º da Convenção sobre os Direitos da Criança, que indica que é da responsabilidade parental, de acordo com as suas competências e capacidades financeiras, condições de vida necessárias para permitir o desenvolvimento da criança
 Para além destas funções, os pais desempenham ainda outros papéis importantes, como seja o de parceiros de interação, o de instrutores diretos no planeamento e implementação de estí mulos de aprendizagem.

À medida que este processo evolui e que a criança cresce e se desenvolve, o processo da parentalidade também sofre adaptações e reorganizações. A adaptação continua que implica um processo de gestão de novas emoções, comportamentos e preocupações.

Fontes bibliográficas:
Martins, C.; Abreu, W.; Figueiredo, M. C. (2017) Tornar-se Pai ou Mãe: O desenvolvimento do processo parental in  Actas do 6 º Congresso Ibero-Americano em Investigação Qualitativa: Investigação Qualitativa em Saúde vol.2 pp 40-49

Cruz, O. (2005)  Parentalidade 1ª Edição, Quarteto, Coimbra