Famílias (quase) Competentes
Tendencialmente
e na nossa intervenção diária temos por hábito enfatizar os problemas das
famílias que nos procuram, focando-nos no que está mal, no que está ausente, no
que é insuficiente ou no que temos que mudar. Para as boas práticas na
intervenção familiar temos de acreditar nas capacidades que as famílias têm de
se (re) organizarem no caos e de encontrarem as suas próprias soluções.
Segundo
Ausloos (1986) todas as famílias têm competências e recursos e constituem
núcleos que diariamente resolvem problemas. Não é, portanto, utópico que se
consiga reajustar e adaptar os padrões comportamentais e existenciais da
família através de um processo de ativação de competências.
A
intervenção não pode somente passar pela ideia de mudança daquilo que funciona mal e não pode somente ocorrer
de fora para dentro. A família é sempre ativa e responsável pela solução, sendo
um sistema autónomo, com competências e capaz.
Promover
a mudança envolve que se abalem sistemas, que se desconstruam ideias e práticas
já existentes, que se promova o desequilíbrio em busca do equilíbrio, que se instale
o caos para que ocorra o novo. Será a família a escolher o sentido em que quer
que ocorra mudança, mantendo a sua identidade e contextos.
Segundo
Ausloos (1996), promover a mudança envolve:
-
Definir concretamente o problema, garantindo que se está perante um problema e
não um facto ou condição;
-
Analisar as soluções já tentadas, evidenciando o que não interessa fazer. È,
ainda, uma forma de perceber como o sistema familiar funciona e o que mantém a
situação;
-
Identificar os objectivos realistas, alcançáveis, apropriados e negociados com
a família;
-
Definir a mudança concreta a alcançar, pois um objectivo utópico pode
transformar ou acentuar o problema;
-
Formular e implementar um programa para produzir essa mudança e motivar os
intervenientes.
Quando
uma família procura e pede ajuda, necessita de sentir disponibilidade da outra
parte, necessita de sentir que lhe será dado tempo para mudar e reorganizar. De
acordo com Ausloos (1996) para uma intervenção ativa e eficiente é importante
que se compreenda os passos inerentes à activação do processo familiar:
-
Resistir a querer saber porque é assim e procurar entender como pode vir a ser
melhor atendendo ao passado;
-
Tentar não saber, deixar que seja a família a construir as suas próprias
hipóteses, dando tempo para que o processo se faça;
-
Sair da impaciência que nos leva a entender as nossas teorias como dogmas, a
crer que as nossas soluções são boas para todos, a impedir a família de
encontrar as suas próprias auto-soluções;
-
Deixar de falar de resistência das famílias. Elas não são resistentes, têm
necessidades de tempo, são prudentes e têm razão para isso.
E
para todos os envolvidos no processo de mudança há algo a reter e uma
competência importante a adquirir: Saber
esperar.
Fonte:
Ausloos, G.
(1996), A Competência das Famílias.
Lisboa, Climepsi Editores
Sousa, L.;
Hespanha, P; Todrigues, S; Grilo, P. (2007). Famílias Pobres: Desafios à Intervenção Social. Lisboa. Climepsi
Editores.
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