terça-feira, 3 de março de 2015

Famílias (quase) Competentes

Por: Ana Licínia Gonçalves
Tendencialmente e na nossa intervenção diária temos por hábito enfatizar os problemas das famílias que nos procuram, focando-nos no que está mal, no que está ausente, no que é insuficiente ou no que temos que mudar. Para as boas práticas na intervenção familiar temos de acreditar nas capacidades que as famílias têm de se (re) organizarem no caos e de encontrarem as suas próprias soluções.
Segundo Ausloos (1986) todas as famílias têm competências e recursos e constituem núcleos que diariamente resolvem problemas. Não é, portanto, utópico que se consiga reajustar e adaptar os padrões comportamentais e existenciais da família através de um processo de ativação de competências.

A intervenção não pode somente passar pela ideia de mudança daquilo que funciona mal e não pode somente ocorrer de fora para dentro. A família é sempre ativa e responsável pela solução, sendo um sistema autónomo, com competências e capaz.
Promover a mudança envolve que se abalem sistemas, que se desconstruam ideias e práticas já existentes, que se promova o desequilíbrio em busca do equilíbrio, que se instale o caos para que ocorra o novo. Será a família a escolher o sentido em que quer que ocorra mudança, mantendo a sua identidade e contextos.
Segundo Ausloos (1996), promover a mudança envolve:
- Definir concretamente o problema, garantindo que se está perante um problema e não um facto ou condição;
- Analisar as soluções já tentadas, evidenciando o que não interessa fazer. È, ainda, uma forma de perceber como o sistema familiar funciona e o que mantém a situação;
- Identificar os objectivos realistas, alcançáveis, apropriados e negociados com a família;
- Definir a mudança concreta a alcançar, pois um objectivo utópico pode transformar ou acentuar o problema;
- Formular e implementar um programa para produzir essa mudança e motivar os intervenientes.

Quando uma família procura e pede ajuda, necessita de sentir disponibilidade da outra parte, necessita de sentir que lhe será dado tempo para mudar e reorganizar. De acordo com Ausloos (1996) para uma intervenção ativa e eficiente é importante que se compreenda os passos inerentes à activação do processo familiar:
- Resistir a querer saber porque é assim e procurar entender como pode vir a ser melhor atendendo ao passado;
- Tentar não saber, deixar que seja a família a construir as suas próprias hipóteses, dando tempo para que o processo se faça;
- Sair da impaciência que nos leva a entender as nossas teorias como dogmas, a crer que as nossas soluções são boas para todos, a impedir a família de encontrar as suas próprias auto-soluções;
- Deixar de falar de resistência das famílias. Elas não são resistentes, têm necessidades de tempo, são prudentes e têm razão para isso.
E para todos os envolvidos no processo de mudança há algo a reter e uma competência importante a adquirir: Saber esperar.
Fonte:
Ausloos, G. (1996), A Competência das Famílias. Lisboa, Climepsi Editores
Sousa, L.; Hespanha, P; Todrigues, S; Grilo, P. (2007). Famílias Pobres: Desafios à Intervenção Social. Lisboa. Climepsi Editores.

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