A dimensão afetiva da parentalidade
Por Cláudia Sousa Andrade
Tal como referi há três post’s
atrás, vamos falar de mais uma dimensão da parentalidade – a afetividade, ou a
dimensão emocional.
Sempre que há uma relação entre
duas ou mais pessoas, para além dos seus comportamentos e dos conteúdos
cognitivos implicados, ocorrem também conteúdos emocionais ou afetivos que vão
caraterizar essa relação. A relação pais-filhos constitui-se como um meio por
excelência em que as situações emocionais se manifestam com uma variedade e uma
intensidade muito própria.
Podemos verificar a existência de
emoções negativas que são estimuladas por interações conflituosas, enquanto que
interações mais responsivas estimulam emoções positivas entre os pais e as
crianças/jovens. Estas emoções variam em intensidade.
A auto-avaliação negativa da sua
eficácia parental implica um sentimento global de insatisfação ou de frustração
e podem ter origem nas seguintes situações:
- Os pais
não podem atuar de acordo com as suas ideias (por exemplo, quando
consideram que é inadequado reagir a um comportamento problemático da
criança, em público);
- O
temperamento difícil de uma criança, coloca obstáculos à ação educativa
dos pais;
- O
stress, o cansaço e a falta de tempo em comum são situações que podem
conduzir a atuações que não consideram ideais;
- O
contexto em que vivem pode estar caraterizado por normas em que os pais
não se revêm, mas têm que atuar em conformidade, para facilitarem a
integração social da criança.
Outra fonte de insatisfação
ocorre quando há um desencontro no sentido negativo, entre as realizações da
criança e as expetativas dos pais.
Emoções negativas também são
desencadeadas em pais que inferem que a criança tem controlo sobre o seu
comportamento inadequado (Dix et al., citado por Cruz, 2005)
Os mesmos autores referem que o
grau de intensidade das emoções negativas está directamente proporcional às
interpretações que fazem do comportamento da criança; o humor negativo dos pais
implica interpretações dos comportamentos inadequados dos filhos como
intencionais e da responsabilidade da criança; estas interpretações negativas,
aumentam a probabilidade de os pais reagirem com afeto negativo e de usarem
comportamentos de afirmação do poder. Quando há maior irritação ou zanga pela
parte dos pais, há também maior probabilidade de usarem estratégias punitivas.
Os pais que infligem maus tratos
físicos aos filhos, parecem fazer apreciações de intencionalidade e de controlo
dos comportamentos inadequados pela criança. Também os adultos que se percebem
a si próprios com pouco poder apresentam reacções de afeto negativo às
crianças, em comparação com os adultos que se percebem detentores de poder na
relação educativa.
As emoções parentais são
adaptativas e regulam o comportamento do indivíduo. Reações parentais negativas
podem não ser desadaptativas, mas pelo contrário suscitar o alcance de uma meta
adaptativa, uma vez que que uma emoção só identifica uma relação disfuncional
pela sua intensidade e duração.
Também se verifica a influência
da afetividade parental no processo de qualidade e bem-estar familiar. Tal como
refere Cruz (2005) uma afetividade parental positiva favorece o
desenvolvimento da criança, enquanto a hostilidade parental está ligada a
fatores de desenvolvimento desfavoráveis.
Assim como os estilos parentais recebem
influência do clima emocional, os pensamentos e as ações dos pais na interação
com a criança, raramente tem uma conotação afetiva neutra.
O sistema parental está
organizado em torno de objetivos: para os pais e para a criança. A
parentalidade requer que os objetivos orientados para a criança ativem emoções
mais fortes do que os centrados nos pais
As emoções implicam uma avaliação
cognitiva prévia, dos benefícios e dos prejuízos dos acontecimentos. Quando os
acontecimentos interferem com os objetivos desencadeiam emoções negativas;
quando os acontecimentos promovem os objetivos, refletem emoções positivas. A
emoção desencadeada reflete a avaliação da situação, das consequências, dos
obstáculos, dos recursos, …
Quando há compatibilidade entre os
objetivos e comportamentos dos pais e da criança, as interações são
harmoniosas, ativa-se um afeto positivo. Quando, pelo contrário não existe
compatibilidade, entre os objetivos e comportamentos, surge um conflito e uma
emoção negativa. A emoção activada depende assim, da avaliação dos pais
relativamente à incompatibilidade de comportamentos e objetivos (por exemplo:
incompatibilidade de objetivos e comportamentos como sendo intencional, provoca
activação de emoção irritabilidade) e à sua percepção relativamente ao controlo
da interação (por exemplo: o sentimento de frustração é sentido na ausência de
controlo da situação; satisfação é sentida quando é percepcionado um controlo
da situação).
A intensidade com que a emoção é experimentada depende do valor com que a situação é sentida, da perceção do controlo
sobre a situação educativa. Nas emoções positivas, a sensação de maior
intensidade ocorre quando os objetivos promovidos são valorizados pelos pais e quando
os comportamentos da criança são considerados como estando dentro do controlo dos
pais. Pelo contrário a perceção de maior intensidade nas emoções negativas
ocorre quando os objetivos também são valorizados pelos pais, mas o
comportamento da criança foge ao controlo dos pais.
As emoções atuam na expressão
emocional dos pais através de um conjunto de comportamentos que incluem, entre
outros, a expressão facial, os gestos e o tom de voz.
Verificam-se mais condições para
a vivência de emoções negativas em pais que são oriundos de contextos
socioeconómicos baixos, com condições de vida difíceis, com graus de stress
elevados e reduzidas fontes de apoio social.
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