terça-feira, 23 de julho de 2013


Intervenção Precoce ou Competências Parentais?

 
É sabido da importância das primeiras experiências, no sucesso do desenvolvimento infantil. É também comum a noção de que, as situações de pobreza familiar associada a comunidades também elas empobrecidas, limitam as possibilidades da criança beneficiar de experiências significativas de aprendizagem e desenvolvimento.

Segundo Machado (2012) a Intervenção Precoce visa prevenir a exclusão social em crianças de risco: seja este risco inerente ao seu meio de pertença (risco ambiental), ou devido às características biológicas da criança (risco biológico).

Citando vários autores como Engle, Felner, Shonkoff, Machado (2012) refere que as crianças vítimas da pobreza são sinalizadas como estando em risco, atendendo às diversas privações cumulativas de que sofrem (alimentação, cuidados de saúde, cuidados parentais adequados e educação de qualidade), que comprometem o desenvolvimento, podendo mesmo conduzir a deficits cognitivos, no desempenho e na linguagem, na infância e na adolescência. Também a pobreza gera outros fatores de risco, muitas vezes associados ao stress parental, que ao intervir nas relações pais criança, torna os cuidadores maltratantes ou negligentes, o que mais uma vez, deteriora o desenvolvimento. A ausência de fatores de proteção aumenta a vulnerabilidade da criança.

Os pais influenciam o desenvolvimento das crianças pela forma como exercem a parentalidade. A parentalidade é o conjunto de atividades exercidas no sentido de assegurar a sobrevivência e o desenvolvimento da criança, que implicam um conjunto de fatores relativos a características individuais dos pais, a características da criança e a fatores do contexto social alargado. Machado (2012) refere ainda que em risco ambiental, a conjugação destes três fatores encaminham os pais no sentido da disfuncionalidade ou da fragilidade dos cuidados que prestam. Por exemplo, o risco de situações ambientais como o consumo de drogas, a violência, mães adolescentes e psicopatologia parental, concorrem para aumentar a situação de risco da criança.

Mais uma vez, Machado (2012) citando Guralnick, aponta a sua proposta de abordagem sistémica global, como quadro unificador das práticas de Intervenção Precoce, seguindo as orientações atuais de intervenção centrada na família nas intervenções individualizadas e na coordenação de serviços de apoio. Ao intervir com a família, permite capacitar os elementos que tratam da criança, a lidar com as suas particularidades e as do seu meio, que a colocam em risco.

Verifica-se que foram as situações de desvantagem socioeconómica que impulsionaram o nascimento da Intervenção Precoce nos Estados Unidos da América, na década de 60 do século XX, com o objetivo de identificar alterações do desenvolvimento, para se poder intervir precocemente, invertendo potenciais percursos desviantes. Em 2005, 19 países Europeus juntaram-se para referir que a Intervenção Precoce é um conjunto de serviços/recursos para crianças em idades precoces e suas famílias (…) incluindo qualquer ação realizada quando a criança necessita de apoio especializado para: assegurar e incrementar o seu desenvolvimento pessoal; fortalecer as competências da própria família; e promover a inclusão da família. (in EuroNews on Special Needs Education, citado por Machado, 2012).

 Machado (2012) salienta ainda que ao agir sobre as condições do desenvolvimento, a Intervenção Precoce promove os fatores protetores, permitindo às crianças cumprir a escolaridade que se traduz depois em fatores positivos para a sociedade, que se traduzem em menores riscos de desemprego, delinquência e/ou dependência de subsídios estatais.

É neste quadro que se insere o Programa de Intervenção Precoce e Competências Parentais, cujo alvo de intervenção são as crianças de risco ambiental e as suas famílias, numa perspectiva de promover a adequação do seu desenvolvimento, do seu bem-estar e da sua futura vivencia de uma cidadania plena.

Machado, T. S. (2012) Risco ambiental e desenvolvimento na infância: Justificando a Intervenção Precoce. in Psicologia, Educação e Cultura, XVI(1), pp. 146-165.

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