Intervenção Precoce ou Competências Parentais?
É
sabido da importância das primeiras experiências, no sucesso do desenvolvimento
infantil. É também comum a noção de que, as situações de pobreza familiar
associada a comunidades também elas empobrecidas, limitam as possibilidades da
criança beneficiar de experiências significativas de aprendizagem e
desenvolvimento.
Segundo
Machado (2012) a Intervenção Precoce visa prevenir a exclusão social em
crianças de risco: seja este risco inerente ao seu meio de pertença (risco
ambiental), ou devido às características biológicas da criança (risco
biológico).
Citando
vários autores como Engle, Felner, Shonkoff, Machado (2012) refere que as
crianças vítimas da pobreza são sinalizadas como estando em risco, atendendo às
diversas privações cumulativas de que sofrem (alimentação, cuidados de saúde,
cuidados parentais adequados e educação de qualidade), que comprometem o
desenvolvimento, podendo mesmo conduzir a deficits cognitivos, no desempenho e
na linguagem, na infância e na adolescência. Também a pobreza gera outros
fatores de risco, muitas vezes associados ao stress parental, que ao intervir
nas relações pais criança, torna os cuidadores maltratantes ou negligentes, o
que mais uma vez, deteriora o desenvolvimento. A ausência de fatores de
proteção aumenta a vulnerabilidade da criança.
Os
pais influenciam o desenvolvimento das crianças pela forma como exercem a
parentalidade. A parentalidade é o conjunto de atividades exercidas no sentido
de assegurar a sobrevivência e o desenvolvimento da criança, que implicam um
conjunto de fatores relativos a características individuais dos pais, a
características da criança e a fatores do contexto social alargado. Machado
(2012) refere ainda que em risco ambiental, a conjugação destes três fatores
encaminham os pais no sentido da disfuncionalidade ou da fragilidade dos
cuidados que prestam. Por exemplo, o risco de situações ambientais como o
consumo de drogas, a violência, mães adolescentes e psicopatologia parental,
concorrem para aumentar a situação de risco da criança.
Mais
uma vez, Machado (2012) citando Guralnick, aponta a sua proposta de abordagem
sistémica global, como quadro unificador das práticas de Intervenção Precoce,
seguindo as orientações atuais de intervenção centrada na família nas
intervenções individualizadas e na coordenação de serviços de apoio. Ao
intervir com a família, permite capacitar os elementos que tratam da criança, a
lidar com as suas particularidades e as do seu meio, que a colocam em risco.
Verifica-se
que foram as situações de desvantagem socioeconómica que impulsionaram o
nascimento da Intervenção Precoce nos Estados Unidos da América, na década de
60 do século XX, com o objetivo de identificar alterações do desenvolvimento,
para se poder intervir precocemente, invertendo potenciais percursos desviantes.
Em 2005, 19 países Europeus juntaram-se para referir que a Intervenção Precoce
é um conjunto de serviços/recursos para
crianças em idades precoces e suas famílias (…) incluindo qualquer ação
realizada quando a criança necessita de apoio especializado para: assegurar e
incrementar o seu desenvolvimento pessoal; fortalecer as competências da
própria família; e promover a inclusão da família. (in EuroNews on Special
Needs Education, citado por Machado, 2012).
Machado (2012) salienta ainda que ao agir
sobre as condições do desenvolvimento, a Intervenção Precoce promove os fatores
protetores, permitindo às crianças cumprir a escolaridade que se traduz depois
em fatores positivos para a sociedade, que se traduzem em menores riscos de
desemprego, delinquência e/ou dependência de subsídios estatais.
É
neste quadro que se insere o Programa de Intervenção Precoce e Competências
Parentais, cujo alvo de intervenção são as crianças de risco ambiental e as
suas famílias, numa perspectiva de promover a adequação do seu desenvolvimento,
do seu bem-estar e da sua futura vivencia de uma cidadania plena.
Machado, T. S. (2012) Risco ambiental e desenvolvimento na infância: Justificando a Intervenção Precoce. in Psicologia, Educação e Cultura, XVI(1), pp. 146-165.
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