sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Programas de Intervenção na Parentalidade e fatores de risco

Por Cláudia Andrade
É do conhecimento geral a importância das experiências vividas, no sucesso do desenvolvimento das crianças e jovens. É também comum a noção de que as situações de pobreza económica e o desconhecimento destas noções por parte dos cuidadores, limitam as possibilidades das crianças e dos jovens beneficiarem de experiências significativas que promovam o seu desenvolvimento e aprendizagem de forma plena e em segurança.
Tal como refere Machado (2012), citando autores como Engle, Felner e Shonkoff, crianças e jovens, oriundas de meios desfavorecidos, são sinalizadas como estando em risco, as próprias e as suas famílias. Atendendo às diversas privações cumulativas de que sofrem (deficit na alimentação e nos cuidados de saúde, cuidados parentais com falta de qualidade, entre os quais pode referir a exposição a comportamentos desviantes, a consumos, a violência, a maternidade na adolescência e a psicopatologia parental, o deficit na qualidade da educação, devido a falta de oportunidades e de interesse), comprometem o desenvolvimento e aprendizagem da criança e do adolescente, podendo conduzir a deficits cognitivos e na linguagem, o que aumenta a situação de risco.
Também a crise económica que atravessamos, que se traduz em desemprego, pobreza e incapacidade de dar melhores condições de vida às famílias, gera outros fatores de risco associados ao stress parental, que ao intervir nas relações pais criança ou jovem, pode provocar comportamentos maltratantes ou negligentes por parte dos cuidadores, o que por sua vez deteriora o processo de desenvolvimento e influência negativamente a aprendizagem. A ausência de fatores de proteção nas crianças, aumenta a sua vulnerabilidade.
Os pais influenciam o desenvolvimento dos seus filhos pela forma como exercem a parentalidade, atendendo que esta representa um conjunto de atividades executadas no sentido de assegurar a sobrevivência e desenvolvimento dos descendentes, que implicam um conjunto de fatores relativos a caraterísticas individuais dos cuidadores, a caraterísticas da criança e a fatores do contexto social alargado.
Machado (2012) refere que a situação de risco, conjugada com os fatores que têm a ver com as caraterísticas dos pais, da criança e do contexto social, encaminham os cuidadores no sentido da disfuncionalidade ou da fragilidade dos cuidados que presta.
Aponta ainda, citando Guralnick,uma proposta de abordagem sistémica global como quadro unificador das práticas de Intervenção Precoce, seguindo as orientações atuais de intervenção centrada na família e na coordenação dos serviços intervenientes. Ao intervir com a família, permite capacitar os seus membros, nomeadamente os cuidadores, a lidarem mais adequadamente com os comportamentos e particularidades dos filhos, bem como intervir no meio social e reduzir assim o risco de alteração do processo de desaenvolvimento.
Assim, os Programas de Intervenção na Parentalidade procuram através da intervenção com os cuidadores, fornecerem-lhes competências e capacidades parentais de forma a aprenderem a lidar com os comportamentos dos seus filhos, numa perspetiva reabilitativa, mas também habilitativa, no sentido de melhorarem o bem estar da família e de tornarem as suas crianças e jovens cidadãos atuantes e competentes.

Fonte: Machado, T. S. (2012) Risco ambiental e desenvolvimento na infância: justificando a Intervenção Precoce. Psicologia, Educação e Cultura XVI(1), 146-165

terça-feira, 2 de junho de 2015

Crescer saudável: a alimentação na adolescência

Por Bruna Jarimba

Para além de a maioria dos adolescentes portugueses ter uma alimentação monótona e pouco imaginativa, a hora da refeição foi também perdida na maioria das famílias. O convívio em torno da mesa, oportunidade única de interacção, foi substituído pela televisão ligada em hora de telejornal ou telenovela. Em situações extremas, já nem sequer há hora da refeição, preparando cada um os alimentos à hora que para si é mais conveniente.
O comportamento alimentar na adolescência é influenciado por diversos factores: maturação somática e psicológica aceleradas, procura progressiva de independência podendo conduzir à adopção de hábitos alimentares que tentam romper com a infância e com os padrões adultos tradicionais, estilos de vida acelerados, horários irregulares com perda de algumas refeições importantes e o consumo de junk food, caracterizada por um alto consumo calórico mas um baixo valor nutritivo.
Não tomar o pequeno-almoço é um péssimo hábito. Muitos adolescentes passam mais de 12 horas sem se alimentarem. Jantam, por exemplo, às 21 horas e estão sem comer até meio da manhã do dia seguinte. Após um jejum tão prolongado, os níveis de açúcar no sangue baixam tanto que podem provocar falta de forças, sensação de desmaio, dores de cabeça, diminuição do rendimento intelectual e irritabilidade.
A família continua a ser um importante agente influenciador das preferências alimentares dos jovens. Na adolescência, as necessidades nutricionais são mais elevadas do que em qualquer outra fase do ciclo de vida. Uma boa alimentação nesta fase é fundamental, não só para que o adolescente alcance todo o potencial de crescimento e tenha uma boa saúde durante este período, mas também como prevenção de diversas doenças crónicas na idade adulta. De facto, certos padrões alimentares desenvolvidos na infância e na adolescência podem, em combinação com outros factores, resultar num aumento do risco de doenças crónicas, tais como as doenças cardiovasculares e a osteoporose. Assim, devemos encarar a necessidade de uma dieta adequada na adolescência, não só pelo seu interesse imediato, mas também como um investimento na saúde e qualidade de vida em adulto.
Muitos dos principais erros alimentares na adolescência são erros trazidos de trás mas, nunca é demasiado tarde para os corrigir:
v  Dieta desequilibrada e desinteressante: com excesso de proteínas e poucos vegetais e frutos; pouco variada, pode ter carências de alguns nutrientes;
v  Pequeno almoço demasiadamente ligeiro (por vezes inexistente). Este mau hábito começa na infância, muitas vezes forçado pela “pressa” constante dos pais;
v  Excesso de calorias e de consumo de açúcar, sobretudo no intervalo das refeições. As calorias a mais acabam por se transformar em gordura;
v  Ingestão exagerada de guloseimas (gelados, batatas fritas, refrigerantes, etc.) no intervalo das refeições;
v  Excesso de gordura e exagero de utilização de gorduras animais (leite gordo, queijos, manteiga, natas e outras gorduras derivadas doa carne ou do leite);
v  Pouca ingestão de água, podendo levar a baixas do cálcio e desidratação;
v  Ingestão de refrigerantes, colas e outras bebidas com açúcar e corantes;
v  Pouca ingestão de cálcio;
v  Excesso de consumo de sal;
v  Poucas fibras na dieta, levando a obstipação e a transtornos na absorção de certos alimentos;
v  Períodos prolongados de jejum. Uma peça de fruta, uma bolacha ou algo do género evita que o adolescente entre em hipoglicemia e comece a ficar embirrante, mal disposto, desatento, cansado, agressivo e com pouca vontade de estudar;
v  Consumo de álcool.

Reconhecidos os erros, vamos a algumas medidas essenciais para uma boa alimentação:
1.    Não estar muito tempo sem comer. Estar muito tempo sem comer leva, como reflexo de sobrevivência, a que todo o corpo se mobilize para procurar comida. A baixa de açúcar no sangue (hipoglicemia) leva a má disposição, falta de atenção, dificuldade em concentrar-se, embirração permanente com os outros, tremores, fraqueza, sensação de desmaio e fome;
2.    Servir-se de pouco (especialmente daquilo que se gosta mais) e comer devagar. Desta forma, o corpo “dirá” quando é suficiente. O sentir-se “cheio” é sinal de que “já chega”;
3.    Mastigar bem. Quanto mais mastigarmos, mais preparamos os alimentos para as fases seguintes da digestão. Além disso, comer devagar e mastigar bem os alimentos é uma das maiores defesas para não engordar. Se devorarmos o que está num prato, rapidamente a comida desaparece e ainda não teve tempo de dar a sensação de satisfação e de se “estar cheio”. Mastigar mal pode ainda causar azia, enfartamento, sonolência após as refeições, noites mal dormidas, entre outros problemas;
4.    Beber muita água. A baixa ingestão de água pode levar à desidratação, que se expressa por sede, com irritação e mau humor. A água dá a sensação de saciedade e promove um bom funcionamento intestinal. Quanto maior a renovação de água, melhor os tecidos e células funcionam;
5.    Ter uma alimentação variada, em grupos de alimentos e na cor dos mesmos;
6.    Recusar fritos e não abusar dos doces.

Convém lembrar, ainda, a importância de comer à mesa. Comer em frente à TV ou ao computador leva a que se ingiram mais alimentos calóricos, porque não exigem grande destreza com os talheres, e aumenta-se o consumo de refrigerantes. A ansiedade é outro elemento contraproducente: quanto mais ansioso se está, mais depressa se come e menos se mastiga. Se se está ansioso, é melhor interromper de vez em quando a refeição e “dar uma volta”, para interromper esse acto quase compulsivo.

Fonte:
Fonseca, H. (2008), Compreender os Adolescentes. Um Desafio para Pais e Educadores. Lisboa, Editorial Presença.

Cordeiro, M. (2009), O Grande Livro Do Adolescente. Dos 10 aos 18 anos. Lisboa, A Esfera dos Livros.

quarta-feira, 22 de abril de 2015

Ajude o seu filho a ter sucesso na escola

 Por Roberto Gomes
O seu filho tem repetido que não quer ir para a escola ou não o diz, mas nota nele desmotivação ou as notas estão a baixar? Qual são os pais que nunca ouviram o seu filho dizer, logo pela manhã, que não quer ir à escola? Mas vamos por partes.
Nem sempre as más notas se devem a verdadeiras dificuldades de aprendizagem e daí ser muito importante estar atento ao seu filho e tentar perceber o que se passa verdadeiramente com ele. É que as emoções, na maioria das vezes, tomam conta da situação e têm um impato muito forte na forma como o seu filho aprende. Neste campo, os pais podem ajudar a superar os obstáculos e os bloqueios emocionais e que para isso, muitas vezes, basta falar e fazer perguntas diretas e concretas.
Todos os pais já ouviram os seus filhos dizerem que não querem ir à escola. O problema começa quando a situação é recorrente e prolongado no tempo. Quando assim é, esta questão deve ser valorizada. Nas crianças mais pequenas, o não querem ir à escola é porque rejeitam rotinas que começam muito cedo, outras porque não querem ficar longe das mães e há ainda os casos de insegurança e de bullying. Se bem que este problema coloca-se mais no primeiro ciclo, mas pode surgir ao longo de todo o percurso, normalmente com as mudanças de ciclo que implicam mudança de escola ou outros factores.
Os pais devem conversar com os filhos pela manhã dizendo “Agora vamos ter de ir embora porque a mãe (ou o pai) tem de ir trabalhar e tu tens que ir para a escola. Temos mesmo que fazer isto, Mais tarde falamos sobre isso (e mais tarde devem mesmo falar sobre o assunto e tentar perceber as razões do filho não querer ir à escola e se acharem necessário devem ir à escola falar com o professor ou mesmo com o psicólogo)”.Os pais devem sempre mostrar aos filhos os aspectos positivos da escola e da sua importância.
Outro aspeto, está relacionado com as várias mudanças que podem ocorrer na vida de uma criança e de um adolescente que podem provocar a quebra de estabilidade e as rotinas, como a mudança de escola, o nascimento de um irmão, o divórcio dos pais, a morte de alguém próximo. Alguns sintomas podem surgir como os vómitos, cólica, recusa em ir à escola, distracção na sala de aula, isolamento ou agressividade, etc. Nestas situações, é muito importante ouvir as crianças, mesmo quando elas não querem falar. Uma técnica é fazer perguntas objectivas. Não se deve perguntar: o teu dia correu bem? Mas sim: qual foi a melhor parte do teu dia e a pior? E esta conversa pode acorrer no caminho da escola para casa. Se isso não resultar, pode sempre tentar partilhar as experiências e dizer também qual foi o melhor e a pior parte do seu dia no trabalho.
Mas falar apenas com as crianças não chega. É preciso falar com o professor, com os colegas, os pais dos colegas, com o psicólogo da escola ou até colocar a anterior escola em contato com a actual para que os profissionais percebam o que mudou e porque mudo.
Caso seja fácil sinalizar as mudanças que originaram as alterações de comportamento do seu filho e por conseguinte o insucesso escolar, pode ir adaptando histórias que costuma contar ao seu filho à situação que ele está viver, para que este perceba que as mudanças são naturais e assim vá perdendo o medo e a ansiedade; outro aspeto importante é os pais preparem os filhos para a mudança sempre que esta é esperada: o divórcio, a morte de alguém que está doente há algum tempo, a mudança de escola, etc.
No entanto, existem também aquelas crianças e jovens que, genericamente, não gostam da escola. Este problema pode ser desencadeado por algum acontecimento que leva à desmotivação – por exemplo a entrada no ensino secundário sem prespetivas de futuro, ou a dificuldade de aprendizagem logo nos primeiros anos de escola. Assim, cabe também aos professores e pais usarem uma linguagem que as crianças e jovens entendam e trazer as aprendizagens para o dia a dia. Por exemplo, os pais ao invés de perguntarem se o dia correu bem, devem perguntar o que é que o filho, ou a filha, aprendeu na escola e como é que isso se pode aplicar numa situação real da vida. Além disso, os pais devem sempre procurar falar com os filhos, tentar perceber porque eles estão desmotivados e se por acaso não estiverem a conseguir ajudá-los, então devem, como já vimos anteriormente, procurar ajuda de profissionais e quanto mais cedo o fizerem melhor pois agir mais tarde pode ajudar a que os bloqueios aumentem. Muitas vezes são estes pequenos bloqueios emocionais que estão por trás da não aprendizagem. Estas crianças acumulam frustração emocional. Uns fecham-se e ficam calados, e outros viram rebeldes porque, perante os pares é mais fácil dizer “eu não quero” do que “eu não consigo”. O controlo das emoções é fundamental para se alcançar um bom desempenho escolar.
Aos pais cabe também um papel muito importante na motivação dos seus filhos. Primeiro que tudo, é preciso que a criança ou jovem sejam felizes. Uma estratégia passa pela importância de incutir nas crianças o hábito de pensar em três coisas boas que lhes aconteceu durante o dia antes de irem dormir. Desta forma reprograma-se o cérebro e o sono é mais descansado. Além da felicidade, os pais podem ajudar os filhos a sentirem-se capazes. Para isso, por cada reprimenda que dão ao filho, têm de encontrar cinco comportamentos ou acções positivas e não se podem ficar pelo elogio genérico. Têm de se referir a ações concretas. É também muito importante que os pais tenham noção da importância das oito horas de sono e que garantam que os filhos descansam o tempo indicado (a única forma de passar informação a curto prazo para longo prazo é dormir; fazer uma sesta de 10 a 15 minutos quando se está a estudar para um teste é aconselhável se não a memória de curto prazo não aguenta).
Outros dos problemas que surge normalmente à medida que os estudantes vão passando estapas escolares é o da indefinição vocacional, o que pode provocar desmotivações e resultados escolares mais fracos. Os jovens ao 9º ano não têm que saber o que querem ser mas têm que perceber o que gostam de fazer e qual a sua área de eleição. O problema é que muitos alunos ainda chegam ao 9º ano completamente perdidos. E de quem é a culpa? Um pouco dos pais porque estes perderam o hábito de lhes perguntarem o que querem ser quando forem grandes. Cabe aos pais ajudarem e darem ferramentas aos filhos para estes serem mais críticos. Perguntar aos filhos o que querem ser quando forem grandes, conversarem com eles sobre o assunto, mostrar-lhes as várias hipóteses que existem, ajudá-los a estar bem informados sobre o que se faz em cada profissão para que eles não criem expectativas erradas. Podem e devem também procurar ajuda dos gabinetes de orientação nas escolas. É também muito importante que os pais proporcionem aos filhos outras atividades para além da escola, como hobbies ou atividades em família pois permite que as crianças vão tendo maior compreensão sobre o que gostam de fazer.




Fonte: Observador.pt

quinta-feira, 5 de março de 2015

Parentalidade Positiva

 Por Cláudia Sousa Andrade
A parentalidade positiva segue o princípio da existência de um padrão de comunicação e negociação entre pais e filhos. Ouvir os filhos, discutir com eles, dar-lhes oportunidade de descobrir como podem resolver os problemas e negociar. Mas há também que ser firme e consistente nas suas ações, sendo muito claro no estabelecimento de regras e limites e na definição de medidas disciplinares directamente relacionadas com as faltas ou com o desrespeito pelas regras e limites estabelecidas.
A parentalidade positiva é assim consistente com um estilo educativo do tipo autoritativo ou orientador.
As bases fundamentais de uma parentalidade positiva respeitam alguns padrões educativos que vamos referir a seguir:
1.       Modele bons comportamentos: os pais devem modelar comportamentos exemplares para os seus filhos, tais como: dizer obrigada e faz favor; apagar a luz quando saí do quarto, mas não dizer nada sobre a sua atitude; esperar pacientemente numa fila; abrir a porta do centro comercial e esperar que as pessoas passem; arrumar a loiça nos armários e os sapatos na sapateira. Quanto mais as crianças vêm estas ações adequadas, realizadas pelos pais, com normalidade e assiduamente, maior a probabilidade de que venham a repetir os comportamentos como sendo algo normal. Quando as crianças são tratadas de forma educada, aprendem a comporta-se educadamente com os outros.
2.       Mantenha uma atitude positiva: Quando não gosta da atitude e das decisões dos seus filhos, quando eles se comportam ou falam de modo a que os pais se sentem incomodados, estes não deixam de gostar deles. Quando confrontam os filhos, quando discutem ou dialogam com eles, os pais devem manter uma atitude positiva e transmitir a mensagem de modo carinhoso, afectivo e preocupado, em vez de sentirem que os pais estão a tentar exercer alguma forma de controlo sobre eles. Uma vez que isso tem grande influência sobre as crianças ou os adolescentes, é importante pensar-mos em coisas positivas e a projetar-mos amor e preocupação.
3.       Diga-lhes as coisas de forma positiva: Falar aos filhos sobre o que não quer que eles façam ou digam, é fácil, mas um erro a evitar. Utilize antes afirmações que foquem o comportamento e são ditas de forma positiva. Por exemplo:
Forma positiva
Forma negativa
Por favor, tem cuidado com o copo.
Não entornes o leite!
Arruma os brinquedos no teu quarto, por favor.
Não deixes os brinquedos na sala!
Lembra-te que tens os trabalhos de casa para fazer.
Não te esqueças de fazer os TPC!
Eu gostava que visses o tom em que falas comigo.
Não me fales dessa maneira!
Por favor, fecha a porta em vez de atirares com ela.
Não batas com a porta!
4.       Nomeie o comportamento em vez de rotular o seu filho: Ao aplicar esta dica da parentalidade positiva não rotule a criança ou o adolescente de “feio”, “mentiroso”, “desarrumado”, “desajeitado”, “preguiçoso”, “desobediente”, “vadio”, etc.. Em vez disso, e dizendo as coisas pela positiva, refira:
Foste feio, mentiste à professora. Não vais tornar a fazer isso. Confio em ti!
Fizeste um bom trabalho, arrumaste os brinquedos todos!
Boa! Fizeste tudo direitinho, como pedi. Fico contente!
Obrigada, por teres lavado o carro! Foi uma boa ajuda!
Obrigada por teres juntado as folhas do quintal. Esta muito bem!
Obrigada por teres ficado em casa a ajudar a por a mesa, em vez de ires com os teus amigos. Foi uma boa ajuda!
5.       Sejam claros sobre as medidas disciplinares: A aplicação de medidas disciplinares consistentes, reforçam as regras e limites familiares e ensinam os nossos filhos a ter comportamentos apropriados. Quando se está cansado, zangado, frustrado ou distraído, é natural que se reaja ou que se ignore o comportamento inadequado da criança ou adolesceste, por isso tente manter a calma ao utilizar a medida disciplinar. O seu filho quando comete a falta já deve saber qual a medida disciplinar que vai ter, pois esta foi definida quando estavam melhor capacitados para definir as regras e expetativas. Não utilize medidas disciplinares, como por exemplo, “Vais ver o que te acontece” ou “Vais ser castigado” sem as concretizar. Defina medidas justas, em termos de tempo e gravidade, à falta cometida.
  
Fonte:

terça-feira, 3 de março de 2015

Famílias (quase) Competentes

Por: Ana Licínia Gonçalves
Tendencialmente e na nossa intervenção diária temos por hábito enfatizar os problemas das famílias que nos procuram, focando-nos no que está mal, no que está ausente, no que é insuficiente ou no que temos que mudar. Para as boas práticas na intervenção familiar temos de acreditar nas capacidades que as famílias têm de se (re) organizarem no caos e de encontrarem as suas próprias soluções.
Segundo Ausloos (1986) todas as famílias têm competências e recursos e constituem núcleos que diariamente resolvem problemas. Não é, portanto, utópico que se consiga reajustar e adaptar os padrões comportamentais e existenciais da família através de um processo de ativação de competências.

A intervenção não pode somente passar pela ideia de mudança daquilo que funciona mal e não pode somente ocorrer de fora para dentro. A família é sempre ativa e responsável pela solução, sendo um sistema autónomo, com competências e capaz.
Promover a mudança envolve que se abalem sistemas, que se desconstruam ideias e práticas já existentes, que se promova o desequilíbrio em busca do equilíbrio, que se instale o caos para que ocorra o novo. Será a família a escolher o sentido em que quer que ocorra mudança, mantendo a sua identidade e contextos.
Segundo Ausloos (1996), promover a mudança envolve:
- Definir concretamente o problema, garantindo que se está perante um problema e não um facto ou condição;
- Analisar as soluções já tentadas, evidenciando o que não interessa fazer. È, ainda, uma forma de perceber como o sistema familiar funciona e o que mantém a situação;
- Identificar os objectivos realistas, alcançáveis, apropriados e negociados com a família;
- Definir a mudança concreta a alcançar, pois um objectivo utópico pode transformar ou acentuar o problema;
- Formular e implementar um programa para produzir essa mudança e motivar os intervenientes.

Quando uma família procura e pede ajuda, necessita de sentir disponibilidade da outra parte, necessita de sentir que lhe será dado tempo para mudar e reorganizar. De acordo com Ausloos (1996) para uma intervenção ativa e eficiente é importante que se compreenda os passos inerentes à activação do processo familiar:
- Resistir a querer saber porque é assim e procurar entender como pode vir a ser melhor atendendo ao passado;
- Tentar não saber, deixar que seja a família a construir as suas próprias hipóteses, dando tempo para que o processo se faça;
- Sair da impaciência que nos leva a entender as nossas teorias como dogmas, a crer que as nossas soluções são boas para todos, a impedir a família de encontrar as suas próprias auto-soluções;
- Deixar de falar de resistência das famílias. Elas não são resistentes, têm necessidades de tempo, são prudentes e têm razão para isso.
E para todos os envolvidos no processo de mudança há algo a reter e uma competência importante a adquirir: Saber esperar.
Fonte:
Ausloos, G. (1996), A Competência das Famílias. Lisboa, Climepsi Editores
Sousa, L.; Hespanha, P; Todrigues, S; Grilo, P. (2007). Famílias Pobres: Desafios à Intervenção Social. Lisboa. Climepsi Editores.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015


Perturbação de oposição – Lidar com o desafio


Á medida que as crianças ficam mais autónomas em termos motores, começam a compreender que existem separadamente dos pais e que podem exercer algum controlo no mundo. Uma forma poderosa de o fazerem é desafiando os pais. Querem afirmar-se, fazer coisas sozinhas de forma a construir a sua autoconfiança e autonomia. O ideal é encontrar formas de mostrar-lhe que pode exercer algum controlo e fazer as suas próprias escolhas de uma forma positiva.

Algumas crianças são, mais desafiantes do que outras. Crianças que têm reacções emocionais intensas, assim como as que são mais tímidas e cautelosas, podem ser mais desafiantes do que aquelas que têm um temperamento mais calmo e flexível. Isto porque têm dificuldades com as mudanças, por exemplo, ir para a cama, visitar um lugar novo, etc. As mudanças normais ao longo do dia, podem ser stressantes e resultar numa grande variedade de estratégias de protesto por parte das crianças.

Pensar nas seguintes questões pode ajudá-lo a adaptar e aplicar a informação à sua criança e à sua família:

  • A que é que a sua criança tende a opor-se mais? O que é que essas situações têm em comum (se têm)?
  • Porque acha que essas situações levam a sua criança a comportar-se assim? Como acha que esse entendimento a pode ajudar a ajudar a sua criança a lidar melhor com essas situações?
  • Como reage, quando a sua criança a desafia? O que é que resulta e o que é que não resulta? O que pode aprender acerca disto?

Por volta dos 18 meses, as crianças começam a compreender que existem separadamente dos outros – que têm os seus próprios pensamentos e sentimentos. Compreendem e podem seguir orientações simples mas estão ansiosas por deixar a sua “marca” no mundo e uma das formas de o demonstrarem é, desafiando os seus pais. Este tipo de comportamento é típico nesta fase do desenvolvimento, em que as crianças estão desejosas de exercer algum controlo sob o mundo e fazer as suas próprias escolhas.

 Lidar com o desafio e o comportamento de oposição: o que podemos fazer

1.    Antecipar as situações que podem levar a criança a desafiá-la, pode ajudá-la a lidar com essas situações. Por exemplo, fazer com que ela saiba que compreende como lhe é difícil ir para a creche. Pode oferecer-lhe a possibilidade de levar um brinquedo para ajudá-la a fazer a transição. Pode também dar um “aviso” à criança, antes de uma transição. Pode mesmo utilizar um temporizador para que possam ter alguma noção do tempo, ou fazer um poster com imagens das rotinas diárias, como por exemplo, imagens de lavar os dentes, lavar o rosto, ler e depois ir para a cama, mostram às crianças o que podem esperar que aconteça a seguir. Para crianças um pouco mais velhas, pode dar “pistas” sobre as transições, como “Mais três vezes no escorrega e depois vamos embora”.

É muito importante agir de acordo com o limite que se definiu.

  1. Deve responder com empatia e definir limites claros. Deve validar os sentimentos da sua criança; isso ajuda-a a perceber que os seus sentimentos importam. Para muitas crianças, a empatia e validação ajuda-as a acalmar-se. Dar um nome aos seus sentimentos também a ajuda a aprender a tomar consciência das suas emoções e, aprender a geri-las. Deve usar linguagem simples e directa: “Eu sei que não queres vestir o pijama. É difícil deixar a brincadeira para ir para a cama”. Quando salta esta etapa, as crianças normalmente reagem mais intensamente para lhe mostrar como estão chateadas. É nesta fase, normalmente, que começam as birras.
  2. Defina o limite. “Está na hora de ir para a cama. Precisas de dormir para que o teu corpo possa descansar e crescer forte e saudável.” Use linguagem que a criança compreenda, frases curtas e claras, mas não ameaçadoras.
  3. Ofereça algumas escolhas: “Queres vestir o pijama antes ou depois de lermos a história?” ou dar-lhe a escolher, entre dois pijamas de que ela gosta. Dar a possibilidade de escolha à criança, permite-lhe sentir algum controlo mas de forma positiva e pode reduzir os comportamentos de oposição.
  4. Use de sentido de humor. É uma óptima forma de retirar alguma intensidade à situação. Use a imaginação. Por exemplo, para uma criança que se recusa a ir para a cama: A Mariana (boneca) está tão cansada, ela quer dormir e quer que te deites com ela…”
  5.  Aplique o limite. Se nenhuma das estratégias descritas resultar, aplique calma e firmemente o limite. “Podes ir para o teu lugar no carro, ou eu coloco-te lá. Escolhe.” Se a criança resistir, faça-o. Com um tom de voz calmo, pode dizer que compreende que ele não gosta de tal situação ou, simplesmente, começar a falar sobre outro assunto. “Uau, olha só para aquele cão enorme ali na rua.” E evite ceder. Se ceder às birras, a criança aprende que, se insistir o suficiente, consegue aquilo que quer.
  6. Pense nos seus próprios comportamentos: estará a enviar mensagens contraditórias à criança? Por vezes, as nossas próprias escolhas podem influenciar o comportamento das crianças. Evite a armadilha do “Está bem?”. “Vamos para a cama agora, está bem?”. É uma forma confusa para as crianças mais novas, porque pensam que têm a hipótese de dizer “Não”. Assegure-se de que comunica claramente o que não oferece escolha. “Está na hora de vestir o pijama e preparar-se para ir para a cama. Queres vestir o pijama verde, ou o vermelho?”
Quando procurar ajuda

Se o comportamento da criança está a interferir com o seu funcionamento diário, na sua capacidade de fazer amigos e interagir com estes, com as suas competências de exploração e aprendizagem ou a afectar negativamente a relação com os pais, então, é importante procurar ajuda profissional adequada. Uma avaliação feita por um profissional na área da infância, pode fornecer informações importantes sobre o que poderá estar na raiz do comportamento desafiador da criança e dar ideias sobre como poderá ajudá-la a lidar melhor com determinadas situações.