segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Apoio social em famílias de risco com crianças

Por Cláudia Sousa Andrade

O apoio social, assenta numa base conceptual derivada de três considerações teóricas: a ecologia do desenvolvimento humano (Bronfembrenner), a teoria do apoio social (Cohen & Syme) e ainda a teoria da procura de ajuda (DePaul et al.)
Enquanto a primeira referência conceptual aponta para que o desenvolvimento humano se faz de acordo com diversas dimensões que incluem a pessoa em desenvolvimento, os processos que implicam o desenvolvimento de atividades entre os vários contextos, os contextos que se referem ao ambiente geral em que a pessoa está inserida e à sua organização em vários níveis onde se processa o desenvolvimento da pessoa, e por fim a dimensão tempo que tem a ver com as mudanças que ocorrem nos eventos da vida e que podem influenciar o desenvolvimento da pessoa. [in http://pt.slideshare.net/jbarbo00/modelo-bioecolgico-do-desenvolvimento-de-bronfenbrenner, consultado em 26.10.2016]
Quanto à teoria do apoio social, esta refere-se ao apoio que é trocado ao nível interpessoal e que proporciona a uma pessoa alvo, apoio emocional, apoio instrumental, apoio informativo e formas de feedback avaliativo.
A última teoria analisa as circunstâncias que afetam a decisão de um indivíduo pedir ajuda, a própria natureza do ato, bem como o tipo de trocas de ajuda que é realizado (Dunst & Trivette, citados por Serrano, 2007).
Os mesmos autores referem ainda que as famílias utilizam por um lado recursos sociais (são recursos extrafamiliares, são potenciais fontes de apoio externo) e por outro lado recursos psicológicos (que são recurso intrafamiliares de cada membro da família) como forma de satisfazerem as suas necessidades e lidar com as situações do dia-a-dia.
Trivette et al., referidos por Serrano (2007) apontam que aos efeitos do apoio social sobre as famílias com crianças está dependente de componentes e dimensões específicas as quais se influenciam mutuamente: (1) Apoio relacional, (2) Apoio estrutural, (3) Apoio funcional, (4) Apoio constitucional e (5) Satisfação com o apoio (ver neste blog, post de outubro de 2016 – O conceito de apoio social).
Atendendo às componentes referidas e de acordo com a investigação realizada, o apoio social influencia direta e indiretamente o comportamento dos pais, da família e da criança. Verificou-se que este apoio é sobretudo prestado nas seguintes áreas do comportamento dos pais, da família e da criança: saúde pessoal e familiar, comportamentos e atitudes parentais, perceção parental acerca do desempenho dos seus filhos e ainda no comportamento e desenvolvimento da criança. Verifica-se então que o apoio social tem influência direta, indireta, de mediação ou moderação no bem-estar dos pais, no funcionamento familiar, nas interações entre pais e criança e no comportamento e desenvolvimento das crianças.
Um outro aspeto, citado por Serrano (2007), referindo estudos de Crnic & Stormshak e Dunst et al., é de que nos primeiros anos de vida da criança, o apoio social está indiretamente associado ao seu desenvolvimento. Este aspeto deve-se á influência direta que o apoio social tem sobre a saúde, o bem-estar pessoal e o funcionamento familiar, que têm por sua vez influência sobre os estilos de interação pais-criança e que vão influenciar o comportamento da criança.
Citando Dunst, et al., a mesma autora refere que o apoio social tem influência direta no comportamento do recetor do apoio e influência indireta nas interações com os demais membros da família.
Na mesma perspetiva, os referidos autores, relacionaram variáveis como o apoio informal, o bem-estar pessoal, o funcionamento familiar, as funções parentais e o desenvolvimento infantil, tendo verificado que o apoio social está mais relacionado com o bem-estar e pouco relacionado com o desenvolvimento infantil. Verificou também que são as funções parentais que estão fortemente relacionadas com o desenvolvimento da criança. Sendo assim, torna-se importante, a aposta no fortalecimento das funções parentais, se queremos influenciar o desenvolvimento dos mais pequenos.
Desta forma reiteramos a importância do trabalho junto das figuras parentais, timoneiros da família, como meio de chegarmos às crianças e de assim intervirmos indiretamente no seu desenvolvimento.
Para além disto, temos que as abordagens baseadas nos recursos (ou na comunidade), referem-se a um conjunto de pessoas e organizações da comunidade passiveis de serem possuidores de fontes de apoio e de recursos capazes de corresponderem às necessidades das famílias, dos pais e das crianças, mobilizando assim recursos formais e informais (Serrano, 2007). 
Citando Trivette et al., a autora refere que a expressão dos recursos comunitários tem como significado: redes sociais pessoais, organizações, grupos associativos, programas comunitários e profissionais, serviços profissionais especializados que podem ser usados pela família, pelos pais e pela criança com o objetivo de ter algum impacto positivo em cada um destes elementos.

Fonte:

Serrano, A. M. (2007) A importância do apoio social em práticas centradas na família in Redes sociais de apoio e sua relevância para a intervenção precoce. 16 Coleção Educação Especial. Porto Editora. Pp-78-91

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